01/12/2016

Um acontecimento relacionado à Ilha de Manoel Gonçalves, 1828

Por João Felipe da Trindade
Isso aconteceu na praça de Recife. O anuncio foi feito por meu trisavô, José Martins Ferreira


Convite de Lançamento do Livro: ILHA DE MANOEL GONÇALVES

Este livro será lançando no dia 8 de dezembro de 2016
No Espaço Hipotenusa, Rua Marize Bastier, 207
A partir das 17 horas
Telefone de contato: 84 99982-7116 
e-mail: jfhipotenusa@gmail.com




29/11/2016

SAUDADE - RESPEITO - PAZ








 



Onde nasceu Laranjeiras

14/09/2016



Por Gustavo Sobral, fotografia acervo da familia

O engenho era a fábrica de se produzir açúcar, os torrões transportados em lombo de animal até Igapó e ali de canoa pelo Potengi até os armazéns da Ribeira em Natal. Aquele engenho era movido a besta na almajarra, nele conduziam a lida, tirador de cana, cambiteiro, mestre do açúcar, os trabalhadores. A cana plantada no solo de massapê, fértil, rico, fecundo, que bebia no rio Ceará-Mirim.

Engenho em um único edifício abrigava todas as funções para o fabricação do açúcar, moenda, caldeira, casa de purgar. Lá no alto o bueiro e a casa grande, plana, comprida que ao engenho se irmanava. Ainda havia a pastagem dos animais, o sítio de fruteiras, as mais diversas, e um roçado.

A manga bacuri de Laranjeiras era o sabor inesquecível daquele tempo. "Luzia feito gemas nos caçuas de cipô", escreveu sinhazinha Magdalena Antunes, que menina viu na feira. O caldo que escorria da moenda seguia para o paiol e do paiol para os tachos aquecidos pelo fogo da fornalha onde começava o cozimento e as chamas subiam o bueiro e ganhavam todo o vale.


Formava-se o mel de engenho que seguia para bater e depois para a casa de purgar onde era despejado nas formas.  Assim o melaço terminava de cristalizar e virava o mais doce açúcar.


   
Marcelo Alves

 
Sobre “O vento será a tua herança” (III)

Como prometido aqui na semana passada, hoje analisaremos “juridicamente” o filme “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”), de 1960, direção de Stanley Kramer (1913-2001), anotando/discutindo uma meia dúzia aspectos da sua narrativa que estão vinculados, direta ou indiretamente, ao direito. 

Comecemos anotando, na esteira do que também fazem Steve Greenfield, Guy Osborn e Peter Robson (em “Film and the Law: the Cinema of Justice”, Hart Publishing, 2010), que “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”) é memorável pelas suas várias cenas de tribunal, talvez em particular a inquirição (em “cross-examination”) do próprio promotor Matthew Harrison Brady (brilhantemente interpretado por Fredric March), “que é chamado como testemunha, para explicar o significado da Bíblia”. 

Ademais, deve ser registrado que “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”) faz parte de uma longa tradição do cinema americano de fazer do advogado o herói dos seus filmes de tribunal. Talvez por isso, como registra Christian Guéry (em “Les avocats au cinéma”, Presses Universitarie de France – PUF, 2011), quase todos os grandes atores americanos tenham em algum momento interpretado o papel de um advogado herói, a exemplo de Henry Fonda em “Young Mister Lincoln”, Gregory Peck em “To Kill a Mockingbird”, James Stewart em “Anatomy of a Murder”, Kirk Douglas em “Paths of Glory” e por aí vai. “O vento será a tua herança” tem o seu “herói jurídico” precisamente no advogado de defesa Henry Drummond, interpretado por Spencer Tracy. Mas há também no filme a figura do “advogado vilão”, que é o promotor especialmente designado para o caso, o famoso Matthew Harrison Brady, muito embora, nesse caso, esse “vilão” nos provoque, pela sua sincera fé na causa, aqui e acolá, certa simpatia. 

Na verdade, nos Estados Unidos da América, a coisa vai ainda mais longe. Conforme lembra o mesmo Christian Guéry, o cinema americano costuma celebrizar na grande tela as vidas profissionais ou as atuações esporádicas como advogados de alguns dos seus grandes homens públicos. São os casos, por exemplo, de Abraham Lincoln (1806-1865) em “Joung Mister Lincoln”, filme de 1939, com direção de John Ford (1894-1973), e, mais recentemente, de John Quincy Adams (1767-1848) em “Amistad”, de 1997, com direção de Steven Spielberg (1946-), ambos, como sabemos, ex-presidentes dos EUA. “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”) tem no seu advogado de defesa, Henry Drummond, uma representação (ficcional, claro) do grande Clarence Darrow (1857-1938, sobre quem já escrevi aqui), que é muito provavelmente o advogado real mais citado e representado – de forma elogiosa, invariavelmente – no cinema americano e, quicá, mundial. Isso sem falar que o personagem Matthew Harrison Brady é inspirado em William Jennings Bryan (1860-1925), também uma figura de peso na história/política americana, especialmente na virada do século XIX para o XX, que foi três vezes candidato quase vitorioso a Presidente daquele imenso país. 

Não estranhamente, o protagonismo dos advogados em “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”) é inversamente proporcional à relevância (para a trama) dada ao juiz que preside o julgamento do filme. De fato, o juiz Mel Coffey (personagem de Harry Morgan) limita-se a observar a batalha entre os titãs ficcionais Matthew Harrison Brady e Henry Drummond. Como apontam os já referidos Steve Greenfield, Guy Osborn e Peter Robson, sua principal decisão, claramente ironizada no filme, foi “conseguir que Henry Drummond fosse nomeado coronel do estado do Tennessee, como o seu adversário, para prevenir que uma maior autoridade estivesse investida em seu oponente”. 

O filme de 1960 é ainda conhecido e elogiado por tratar de alguns dos grandes problemas enfrentados pela sociedade americana, entre eles o radicalismo religioso, o moralismo e o preconceito que, permeando toda a vida na pequena Hillsboro, de logo faziam do julgamento do jovem professor Bertram T. Cates (interpretado por Dick York) um “jogo de cartas marcadas”. O júri de “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”), como representativo daquela sociedade, compartilhava, em sua imensa maioria, por exemplo, os mesmos valores religiosos fundamentalistas de viés criacionista. E o filme faz uma crítica explicita ao preconceito dos jurados, algo que, para quem milita nessa área, é bastante conhecido, frequentemente prejudicando a imparcialidade dos julgamentos no tribunal do júri. Numa excelente cena de tribunal, no momento da escolha/rejeição dos jurados, o advogado defesa Henry Drummond começa perguntando a alguns potenciais jurados se eles acreditam na bíblia e se já ouviram falar de Charles Darwin (1809-1882). Mas, em determinado momento, constatando que o radicalismo religioso estava impregnado naquela comunidade, e querendo deixar isso claro, ela passa a rejeitar os jurados após apenas fazer a pergunta “como vai você?”. Aliás, o filme, nesse ponto, como anota o já citado Christian Guéry, busca ser fiel ao que se deu no caso real em que se baseia. No caso verdadeiro, restou famoso o diálogo de Clarence Darrow, atuando como advogado de defesa, com um dos potenciais jurados. O famoso advogado perguntou ao jurado se ele já havia discutido a teoria da evolução, se havia entendido os sermões sua igreja sobre o tema, se havia entendido o que o promotor falara ou se tinha anteriormente escrito sobre o assunto. O potencial jurado responde que não, que tinha pouco estudo e que, na verdade, nem sabia ler, ao que Darrow replica, brilhantemente: “Bom, você tem uma chance” [“de ser imparcial”, acrescento eu]. 

Bom, para finalizar, faço apenas mais uma observação: assistam ao filme “O vento será a tua herança” (“Inherit the Wind”). Vocês vão gostar deveras. 

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

28/11/2016

Macaíba



VALE A PENA PEDIR DE NOVO



Valério Mesquita*




O rio Jundiaí, no trecho em que atravessa a cidade de Macaíba, perdeu o solo, o curso, o chão, o cheiro, a visão e é ameaça a segurança dos habitantes. Entre o parque governador José Varela e a praça Antônio de Melo Siqueira deixaram crescer no leito poluído imensos manguezais que enfeiam um dos mais bonitos logradouros urbanos. Essa selva esconde lixo doméstico, carcaças de animais, marginais do tráfico de drogas em todo o seu percurso e os galhos já ultrapassam a altura da ponte e das balaustradas.

A Tribuna do Norte publicou ano passado, excelente matéria sobre tudo que ameaça e destrói os rios Potengi e Jundiaí. Mas, o foco da minha questão e, creio, dos cidadãos macaibenses, reside exatamente neste aluvião de perguntas: por que o Idema e o Ibama não evitam, aparando, podando, somente nesse trajeto o “matagal” entre o antigo cais do porto até a outra lateral da ponte? Por que não licenciam a prefeitura para o fazer?

A praça e o parque perderam o charme de antigamente. Ninguém enxerga ninguém, olhando de um lado para o outro. A conscientização ambiental deve ser obedecida até onde não prejudique a funcionalidade urbanística e o senso prático e plástico do mapa citadino. Desde quando, em 1950, se planejou e se construiu a estrutura de pedra e cal das duas margens, o choque do progresso jamais prejudicou a superfície do rio. Nem, tão pouco, o molestaram, a expansão e o desafio do crescimento habitacional. Pelo contrário, a construção ordenou a trajetória das águas e defendeu as ruas periféricas contendo os transbordamentos. Contemplo, hoje, que os problemas das inundações estão equacionadas com a construção da barragem de Tabatinga. Por que o Idema  e o Ibama, tão preocupados com o meio ambiente, não permitem, apenas, nesse, pequeníssimo trajeto fluvial o corte da poluição visual da paisagem urbana e memorial de Macaíba?

Ali, a vegetação gigantesca e desproporcional encobre um dos pontos históricos do município. Refiro-me ao cais das antigas lanchas que faziam o percurso fluvial entre Macaíba e Natal: a lancha do mestre Antonio, o barco de João Lau, além da lancha “Julita” que transportou tantas vezes Tavares de Lyra, Eloy, Auta e Henrique Castriciano de Souza, Augusto Severo, Alberto Maranhão, João Chaves, Octacílio Alecrim e tantas outras figuras notáveis da vida social, cultural, política e econômica. Todos se destacaram nos planos estadual, nacional e internacional. Ali, o centenário cais, jaz sob os escombros de verdes balizas envergadas e fantasmagóricas. A visão noturna é tétrica e arrepiante. Desfigura e mutila os padrões estéticos do planejamento da urbe que a faz parecer abandonada e suja. Até a lua cheia que nasce lá por trás do Ferreiro Torto foi encoberta.

Assim como se deve obedecer a educação ambiental, do mesmo modo, exige-se o tratamento e o corte do matagal por parte do Idema e do Ibama a fim de evitar o represamento do lixo no leito, exclusivamente urbano. Nas capitais e cidades importantes do Brasil banhadas por rios não se vê tratamento tão dispersivo e indiferente da parte dos órgãos responsáveis. Ao redimensioná-lo neste texto, cabe aos institutos prefalados uma reflexão, um reestudo sobre o cenário dantesco do rio Jundiaí na parte descrita. O povo macaibense tem o direito de ouvir e a coragem de duvidar que essa “selva amazônica” que devora e perturba a todos seja explicada e resolvida, sem slogans, clichês, palavras de ordem, lugares comuns, peças de marketing ou princípios dogmáticos. Que venha à lume as boas intenções e que não fique Macaíba submersa na floresta de manguezais, ocultando o passado de sua arquitetura urbana de quase setenta anos: Parque Governador Jose Varela e Praça Antônio de Melo Siqueira (1950).



(*) Escritor.