EVOCAÇÕES
16/10/2020
13/10/2020
A democracia, as
eleições e a cidade
Tomislav
R. Femenick
– Jornalista
Dentre os
inúmeros presentes que recebemos dos gregos (falo dos presentes genuínos, e não
do cavalo de Troia), a democracia talvez tenha sido o mais precioso. Todavia,
como muitas outras coisas – tais quais o ar e a água – é frequente não nos
darmos conta de sua importância. A democracia é como a liberdade, a sua irmã
siamesa; falamos muito sobre elas, porém só “sentimos” a sua importância quando
as perdemos.
Como
já deu para notar, o assunto de hoje é a democracia, explicitada nas eleições
que se aproximam. Mas, afinal de contas, quem é essa senhora? Teórica e
filosoficamente, a democracia (do grego: “δῆμος”, povo; “κράτο”, poder) é o regime
político em que todo o poder se origina do povo. Em nossa Constituição está
dito: “Todo o poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. É lindo, não é?
Ela, a
democracia, parece estar presente em todo o processo eleitoral, mas somente
parece. Acontece que, no Brasil, os partidos políticos têm donos que se
assenhoram da máquina e impõem sua vontade, prostituindo o conceito de
democracia. Esses senhores fazem o que querem, escolhem os candidatos e a
distribuição dos recursos do fundo partidário. E o povo? Ora, o povo! O povo é
apenas massa de manobra desses senhores que transformam os partidos políticos
em verdadeiros feudos, nos quais eles mandam e, mais que isso, desmandam.
As eleições que
se aproximam são um exemplo clássico desse proceder. Para angariar votos, vale
tudo, inclusive candidatos inexpressivos, sem plataforma nenhuma, mas que são
simpáticos e possíveis puxadores de votos para reforçarem a votação das legendas.
As redes sociais das quais participo dão um exemplo típico. Tenho recebido
mensagens pedindo meu voto, oriundas de pessoas que conheço e, também, de outras
que não conheço e de quem nunca ouvi falar. Tem de tudo. De pagodeiro a
doutores, de intelectuais a gente do povo, de políticos profissionais a
estreantes, dos que apresentam enredos de planos de ação aos que apelam para a
excitação de sentimentos. No entanto, a grande maioria se apega a nomes como
Bolsonaro ou Lula.
O que esses
senhores e senhoras se esquecem é de que as próximas eleições têm caráter
municipal, têm a ver com o cotidiano da cidade em que moramos; aqui, no nosso
caso, a cidade de Natal, uma urbe cheia de problemas que nunca são resolvidos,
dos mais simples aos mais sérios. Por exemplo: quase ninguém fala do nosso
eterno problema de saneamento básico, do desmantelo que é o transporte público,
da desatualização do Plano Diretor que engessou o desenvolvimento urbano. Há,
dirão, mas esses são problemas que exigem grandes recursos ou grandes trabalhos.
Sim, no entanto é para resolver grandes problemas que existem prefeitos e
vereadores. Os pequenos, os funcionários burocráticos resolvem sozinhos.
O que falta é
vontade política para resolvê-los, inclusive os pequenos assuntos controversos.
Quer exemplos? Temos aos montões. Entram e saem governantes e ninguém resolve a
questão da numeração das edificações de nossas ruas, avenidas e praças.
Localizar um número é enfrentar uma loucura organizada. Em alguns logradores, não
há um segmento lógico, há repetição de números, um número alto é seguido de um
número baixo e assim por diante. Para completar a loucura, a maioria das ruas
não têm placas nos cruzamentos.
Outra loucura é
a altura das calçadas. Saindo dos bairros centrais, encontramos calçadas de
todas alturas, umas baixas e outras altas, umas seguidas das outras. Completam
o quadro da desordem os rebaixamentos ou as elevações para as entradas dos
carros. As pessoas, principalmente as com deficiência de locomoção, que se
lixem.
Não vi nem ouvi
nenhum candidato falar nesses problemas; são pequenos demais para eles se
envolverem. O foco deles é se apresentarem como simpáticos ou seguidores dessa
ou daquela corrente, de direita ou de esquerda. A maioria pensa apenas em se
dar bem.
Tribuna do
Norte. Natal, 10 out. 2020.
LUCIA HELENA
(Depoimento do ex-presidente da UBE-RN, Eduardo Gosson, acerca da escritora LUCIA HELENA)
Tem pessoas que passam em nossas vidas e não acrescentam nada; outras deixam marcas profundas. LUCIA HELENA PEREIRA pertencia a esse segundo grupo. Nascida em Ceará-Mirim pertencia à aristocracia do açúcar.
Neta da escritora MADALENA ANTUNES (primeira mulher a escrever um romance no RN e JUVENAL ANTUNES, poeta, morou um tempo no Acre, onde foi Promotor de Justiça. Ficou famoso com o seu poema Elogio à preguiça.
Neta de MADALENA ANTUNES e sobrinha de JUVENAL ANTUNES, logo estaria familiarizada\com o fazer literário.
Presidiu por 10 anos a ASSOCIAÇÃO DE MULHERES JORNALISTAS E ESCRITORAS – AJEB-RN.
Passei a conhecê-la durante um sarau que realizei na livraria AS BOOK. O saudoso ENÉLIO PETROVICH foi quem fez a ponte entre nós.
Reconstruída a UBE-RN logo veio a ocupar a Diretoria de Divulgação onde realizou um profícuo trabalho. Foi uma assessora eficiente. Pronta para combater o bom combate a qualquer hora. Certa vez liguei para ela às 2 horas da madrugada para contar-lhe um fato extraordinário.
Tinha uma qualidade nobre: dizia o que pensava. Não se importava se voava pedaço para todo lado. Corajosa, certa vez fui deixa-la em sua residência, em Lagoa Nova. Durante o trajeto um carro, ocupado por dois homens, quase batia em nós. Um deles gritou: -sai do meio se não passo por cima de vocês! Provocaram e foram adiante. Ela olhou para mim e disse: - Dudu, acelere o carro atrás daqueles bandidos. Tentei com muito jeito demovê-la desta atitude.
Pessoas assim o mundo está carente: coragem e caráter íntegro.
LUCIA, como você está fazendo falta a todos os que ficamos neste Vale de Lágrimas. Fundaremos uma UBE pertinho de JESUS.
Abraço do seu amigo
Eduardo Gosson
09/10/2020
08/10/2020
Que tal provar um Saint Peter ou uma TILÁPIA...
Patrimônio
Graco Aurélio Câmara de Melo Viana
Professor Associado da UFRN
Sócio Efetivo do IHGRN
Há tempos que um amigo me disse para escrever sobre a Tilápia, na tentativa de desmistificar sua má fama e apresentar sua importância histórica na alimentação do “homem nordestino”. Agora, vamos tentar conseguir este intento.
Nossa intenção não é publicar um artigo acadêmico, uma vez que existem especialistas mais qualificados para tal tarefa, quando o assunto é o peixe Tilápia, da espécie Sarotherodon niloticus, com suas novas e geneticamente melhoradas “variedades”, comercializadas com muito sucesso no mercado mundial. A personagem deste texto é originária das águas do Rio Nilo, também encontrada nos rios e lagos da África. Na atualidade é “espécie do mundo” estendendo-se da Ásia às Américas por suas qualidades biológicas e organolépticas.
Ao voltarmos para a história da Tilápia no Brasil, inicialmente, temos de reverenciar a criação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, o quase centenário DNOCS. À esse órgão devemos a “invenção” deste peixe nos açudes nordestinos, construídos para combater totalmente ou, pelo menos, minimizar os efeitos dos anos de secas prolongadas no sertão. Sobre os açudes, nosso “sertanejo maior”, o Doutor Honoris Causa da UFRN Oswaldo Lamartine, os descreve de forma exemplar em um de seus livros sobre o tema.
Historicamente, temos que nos referir ao pioneirismo do naturalista alemão Dr. Rodolpho Von Ihering que se instalou nas terras do Ceará, lá pelos idos de 1940-, e deu início aos estudos dessa espécie. Também não podemos esquecer do Dr. José William Bezerra, que entre outros pesquisadores da Estação de Piscicultura de Pentecostes, deu novo impulso à piscicultura continental com a produção dos alevinos na Estação de Piscicultura, hoje nominada de Centro de Pesquisas em Aquicultura “Rodolpho Von Ihering.
No Rio Grande do Norte a Tilápia também teve seu destaque institucional, através da Estação de Piscicultura “Estevão de Oliveira”- DNOCS - localizada em Caicó; e, por meio da Estação de Piscicultura “Sebastião Monte”, da UFRN, em Macaíba. Ambas contribuíram para difusão da tilapicultura e foram responsáveis pelos alevinos utilizados nos peixamentos de açudes e das primeiras pesquisas, que ajudaram a consolidar uma base de dados dessa espécie, proporcionando o aprendizado de gerações de estudantes e piscicultores.
A criação da Tilápia do Nilo esteve limitada à produção de alevinos e ao povoamento dos açudes recém construídos pelo sertão nordestino, entre as décadas de 70 e 80. Os peixamentos foram muitos, alguns até festivos e representavam a “ocupação” das águas pela Tilápia, que tornou-se popularmente conhecida por “pilatos”. Ela, a Tilápia, compartilharia assim, o mesmo corpo d’água com os nativos carás, piaus e piabas. Tal ocupação teria originado muitas “estórias” e algumas pelejas ambientais, ocasionadas pela espécie “exótica” trazida da África, que se tornou mais nativa do que qualquer outra espécie introduzida pela Aquicultura.
É importante destacar que no inicio da produção da Tilápia nos pequenos açudes, os resultados não foram nada estimulantes na colheita com a captura de milhares de peixes pequenos e de pouco valor comercial. Essa situação estaria relacionado com a limitada tecnologia na produção dos alevinos, especificamente na sexagem dos machos e das fêmeas, que ocasionavam reprodução excessiva e competição alimentar, e associado à falta de insumos apropriados para a sua alimentação, restringia o crescimento do peixe. Na verdade, tecnicamente, o sistema adotado era da piscicultura extensiva.
Por um bom tempo, apelidado de “pilatos” e com gosto de “barro” só poderia ter ficado com má fama mesmo. De feira em feira, tratado como o “peixinho feio”, certamente morrendo de inveja do belo e saboroso Tucunaré, e para quem alimentou até os apóstolos de Cristo a Tilápia encontraria quem a defendesse. Portanto, registre-se que foi a Tilápia que garantiu ao sertanejo uma das únicas fontes de proteínas nos anos de secas brabas, quando os pequenos açudes ou barreiros secavam até restar uma ínfima lâmina d’água, e nesta saltitavam esses peixinhos para alegria de quem os pescava.
É, o mundo dá muitas voltas...
Com a evolução tecnológica da Aquicultura, no caso, da piscicultura continental, a Tilápia passou a ser o peixe mais criado, valorizado e disputado no expressivo mercado mundial de alimentos saudáveis proveniente da atividade aquícola. Hoje, tem disponibilizada a mais alta tecnologia do setor produzida em modernos viveiros, tanques-rede, raceways, intensivamente e superintensivamente.
Já tem lugar garantido nas maiores redes de supermercado, peixarias, fast foods e restaurantes do mundo globalizado. Afirmo, e tenho “velhas” provas fotográficas, que já as visualizei no meio de salmões, hadocks, linguados, bacalhaus, toda faceira e destacada entre os nobres pescados.
Por vezes, fico pensando em São Pedro, padroeiro dos pescadores, quando da multiplicação das Tilápias no rio Nilo, que jamais imaginaria o sucesso que aquele peixinho faz em famosos restaurantes e além mar e até da nossa Natal, levando seu nome. Muitos já devem ter lido no cardápio, “Filé de Saint Peter com molho de alcaparras”. Trata-se de uma estratégia de marketing ou “marquetingue”, montada por uma empresa de piscicultura no Peru, que lançou a marca “Saint Peter Fish” para suas tilápias, na época, de coloração vermelhas como as nossas Ciobas.
Concluindo, esta estória virou um conto de fadas, pois de “Pilatos” à “Saint Peter”, a milenar Tilápia do Nilo conquistou as passarelas da gastronomia, ganhou campeonatos de “sabor e valor” e hoje faz parte da nossa cultura alimentar. Mesmo que a peçamos pelo seu nome de fantasia: “Garçom, por favor um filé de Saint Peter” , e após saboreá-la, exclamaremos: “ Ô tilápia boa da bixiga!
Bom Apetite!!!
Para ler este e outros inscritos, acesse: gustavosobral.com.br
____________________
Colaboração de Gustavo Sobral.