03/10/2019





Síndrome da hipocrisia brasiliense
Tomislav R. Femenick – Jornalista. Do Instituto Histórico e Geográfico do RN 

Apesar dos percalços, a chamada melhor idade (eu quero saber quem inventou essa baboseira; é velhice mesmo) tem em si duas vantagens. A primeira é que os idosos conseguiram vencer a única opção para não envelhecer, a morte. A segunda, é que eles (nós) possuem um enorme estoque de memórias, reminiscências, lembranças de fatos passados, banais ou relevante.  
Essa reflexão veio a mim lendo as últimas notícias do mundo político nacional, das marchas e contramarchas dos governantes: deputados, senadores, ministros de governo, ministros togados e outros figurantes do cenário brasiliense. Não é fácil entender essa gente. Aí veio-me à lembrança um fato acontecido há muito, muito tempo.
O ano era 1958 ou 1959, no governo de Juscelino Kubitschek, quando o dínamo das alterosas instalava a indústria automobilística no país, abria estradas, inovava nas relações políticas e construía uma nova capital federal, lá no planalto central. Havia um certo entusiasmo nacional. Somente a “banda de música” da velha UDN aparecia contestando esse ou aquele ponto do rolo compressor mineiro. Estávamos no Rio de Janeiro, mais precisamente no bar da Pérgula do Hotel Copacabana Palace. Éramos quase todos norte rio-grandenses, capitaneados pelo meu primo Mota Neto, ex-deputado federal, que conhecia o Rio de Janeiro e sua gente da “alta roda” como ninguém. Conhecia de Walter Moreira Salles, dono do Unibanco; Ibrahim Sued, cronista social; ao Fred, o garçom do Antonio’s Bar, e um monte de outros cariocas ilustres. 
Mas voltemos àquele momento no Pérgula. Como não poderia deixar de ser, a conversa do grupo terminou se voltando para a construção Brasília. Uns achavam que seria bom, pois levaria o progresso para o interior do país, outros lamentavam a perda de status que irremediavelmente o Rio sofreria e outras opiniões afloraram. Só Mota Neto estava calado, até que alguém lhe perguntou: “Mota, você não fala nada”. Então ele respondeu que seu medo era que a capital isolada, lá no meio do cerrado, fizesse como que os representantes do povo também se isolassem da nação, perdessem seu vínculo com a realidade do país e passassem a viver em um mundo diferente do Brasil verdadeiro. Todos aqueles palácios, aquelas residências separadas por quadras qualificadas, aquelas moradias pagas com dinheiro público e, também, outras modalidades do viver da nova capital poderiam transformar a visão pública (atualmente, diríamos republicana) dos políticos e servidores públicos. 
Sem dúvida, essa foi uma visão profética. Hoje os políticos e servidores públicos que habitam Brasília só olham para seus umbigos, se tornaram nababos e transformaram os brasileiros (a quem deveriam servir) em seus vassalos. Quer exemplos? Vamos a eles: bilhões de reais que fazem falta aos hospitais, escolas e segurança pública são destinados aos fundos partidários, que no fundo, no fundo, só visam reeleger suas excelências; pagamento de auxílio moradia para quem tem residência própria, enquanto milhares de pessoas, famílias inteiras, moram na rua; pagamento de planos de saúde com assistência ilimitada, para alguns, enquanto pessoas morrem na fila do SUS, que vive à mingua de verbas; aviões da FAB e passagens aéreas “para autoridades” pagas com dinheiro público, enquanto os trabalhadores pagam passagem de ônibus para ir trabalhar, geralmente em veículos inseguros e superlotados; professores de universidades públicas e outros servidores têm custeados seus estudos de pós-graduação, doutorados e pós-doutorados por órgãos do governo, enquanto os outros mortais pagam tudo com dinheiro do próprio bolso. 
Se em Brasília é assim, não há por que nos Estados e Municípios ser diferente. Não interessa o tamanho de suas receitas, as beneficies não replicadas automaticamente. Dessa forma os penduricalhos federais se espalham por todos os entes federativos. É a síndrome da hipocrisia brasiliense. 
  


02/10/2019


A crise brasileira e os cristãos
Padre João Medeiros Filho

O Brasil padece de uma ingente crise econômica, política, social, ética e cultural. Analistas verificam que o descaso com a “res” pública, a corrupção e a injustiça têm sido marcas constantes, ao longo de anos. Nas últimas décadas, propagadores da impunidade assumiram abertamente a postura da desfaçatez. Não disfarçam de qual lado se posicionam. Colocam-se contra a pátria e os direitos dos cidadãos indefesos, empobrecidos e altamente explorados. Há muito, o poder econômico domina. A ética agoniza. Interesses de alguns importam mais do que o bem comum. Sobre os ombros dos carentes, sofridos e injustiçados, vítimas dos desmandos governamentais, recai o ônus das mazelas pelas quais passa o país. Vive-se em meio aos destroços causados pelo desemprego, pela baixa qualidade de ensino, fragilidade da saúde do povo, falta de investimento em serviços públicos etc.
Aos cristãos três caminhos se abrem diante dessa triste conjuntura. O primeiro consiste em permanecer ao lado dos insensíveis. O segundo, manter um silêncio omisso e conivente, beneficiando a iniquidade. Por fim, cabe-lhe assumir uma atitude de engajamento contra essa realidade desumana. É preciso um compromisso de serviço ao próximo e à pátria, antecipação do Reino de Deus. Ao longo da história, setores da Igreja trilharam, em determinados momentos, por essas três direções. É necessário, com inspiração evangélica, assumir o lado da solidariedade, presença e diálogo transformador. Não se pode desviar dessa opção. É o compromisso de todo cristão que, pela vivência do Evangelho, se envolve com a causa do próximo e o Reino de Deus. Este consiste também na equidade, na garantia de direitos dos justos e honestos.
Os verdadeiros seguidores de Cristo – apesar de esperar uma vida plenificada, após a peregrinação terrestre – não podem cruzar os braços diante dos empecilhos do despontar do Reino na realidade histórica e no cotidiano. O sinal da cruz, traçado na fronte dos cristãos, deve significar o seguimento ao Mestre, que colocou sua vida inteiramente a favor dos irmãos. A Igreja – enquanto sacramento terreno e continuação da missão do Filho de Deus – deve assumir o ousado e bíblico papel da profecia, opondo-se a tudo que é sinal de morte, injustiça, desonestidade e falta de ética, ou seja, o contratestemunho da doutrina de Jesus. Mas, é importante que se diga: o profetismo não se refere à mera condenação ou crítica, construída em confortáveis gabinetes, surdos aos gritos ou gemidos dos que sofrem. O compromisso da Igreja é o do diálogo com todos, da busca de soluções adequadas e sugestões de atitudes que possam iluminar as ações dos dirigentes. É fácil condenar, mas não é cristão. “Porque não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo 12, 47). Rabindranath Tagore insistia: “É mais fácil condenar milhares de pessoas do que tocar uma só com a verdade”.
A laicidade do Estado não deve ser óbice para o diálogo das forças religiosas com os poderes públicos. As igrejas têm um importante papel na defesa de direitos dos cidadãos, filhos de Deus. Desde que voltadas para os verdadeiros interesses do bem comum, elas detêm legitimidade na discussão da coisa pública, em favor da população e contra as práticas opressoras, vindas daqueles que deveriam ser os autênticos representantes do povo.
Tal como João Batista, precursor do Senhor, os cristãos necessitam ser uma voz que clama, como sinal de esperança para os sofredores, vítimas da maldade e injustiça. “Devemos ter uma palavra de paz, alegria, consolo, diálogo e ternura”, dizia Santa Dulce dos Pobres. A fidelidade ao Evangelho não pode assumir uma posição de indiferença ante o sofrimento daqueles que não têm voz e vez na sociedade. Isso não significa que a Igreja deva ser partidária, como pensam e pregam alguns, esquecendo o que disse o Mestre: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36). Inspirados na Palavra de Cristo, os seus discípulos precisam assumir sua vocação, fundamental para o autêntico testemunho da vivência religiosa e expressão da fé. “Somos cidadãos do céu, mas não podemos tornar a terra num inferno”, advertia Santo Agostinho

30/09/2019





O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE viveu na última Quinta Cultural, um dia de grande importância, 
com a palestra do Professor e Escritor TOMISLAV FEMENICK, discorrendo 
sobre o tema
"ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO EM MOSSORÓ



Compareceu uma seleta plateia, com a necessária atenção face ao empolgante tema.


PARABÉNS 

23/09/2019

Marcelo Alves

Dostoiévski e o seu cárcere



Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881) nasceu em Moscou, em uma família que podemos classificar como da nobreza decadente. Perdeu os pais muito cedo. Formou-se em engenharia. Fez jornalismo. Mas foi sobretudo um escritor. Um ficcionista que tratou com maestria da filosofia, da psicanálise e da religião. “Gente Pobre” (1846), “O Duplo” (1846), “Humilhados e Ofendidos” (1861), “Recordações da Casa dos Mortos” (1862), “Crime e Castigo” (1866), “O Jogador” (1867), “O Idiota” (1869), “O Eterno Marido” (1870), “Os Demônios” (1872) e “Os Irmãos Karamázov” (1881) são alguns dos seus títulos famosos. Simplesmente genial. Dostoiévski faleceu em São Petersburgo.
Mas não vou escrever aqui sobre “Crime e castigo”, “O jogador” ou mesmo “Os Irmãos Karamázov” (1880), embora considere estas as obras-primas do grande literato e pensador russo. Pelo menos não diretamente.
Minha intenção hoje é tratar de um aspecto – juridicamente relevante, aliás – da vida tormentosa de Dostoiévski. E das suas consequências. Para quem não sabe, acusado de conspirar contra o Czar Nicolau I (1796-1855), Dostoiévski foi, em 1849, condenado à morte. Pena essa que, apenas momentos antes do comando para o fuzilamento, foi anunciada como comutada para prisão com trabalhos forçados (diz-se que o próprio Czar exigira a encenação da falsa execução). Dostoiévski, então, com os seus grilhões, foi levado à Sibéria. Quatro anos de prisão. E coisa de dez anos de exílio nesse fim de mundo.
Esse padecimento – a partir da sua experiência de condenado numa prisão decadente, suja e intransponível em Omsk, na Sibéria – foi narrado de modo tocante por Dostoiévski, em “Recordações (ou Memórias) da Casa dos Mortos”, talvez como ninguém mais na literatura universal. De 1862, “Recordações da Casa dos Mortos”, construído a partir de uma coleção de fatos e eventos relacionados à vida nas prisões da remotíssima Sibéria, é um romance, é verdade. Mas só quem passou por esse “sofrimento inenarrável”, só quem ali esteve “sepultado vivo”, para usar de expressões do próprio Dostoiévski, seria capaz de descrever (se talento literário tiver para tanto, claro) as condições de vida e a personalidade daqueles que são condenados, culpados ou não, a viver ou morrer nessas condições.
O momento da prisão em si, a solidão do cárcere ou a promiscuidade com delinquentes perigosos, tudo isso é terrível, sobretudo para homens de caráter e de sentimento. Na verdade, como adverte Lemos Britto (1886-1963), em seu “O crime e os criminosos na literatura brasileira” (Livraria José Olympio Editora, 1946), quem passa em frente às masmorras “onde se cumprem penas não sabe o que de angústia e desesperos se passa na alma de seus habitadores. Ainda há quem veja o crime e esqueça que o criminoso é um homem, que a sua alma não se petrificou, que a sua sensibilidade não morreu com a prática do ato antissocial. E não adivinha também que do lado de fora se representam outros dramas, ligados àquelas existências esmagadas sob um número e um regime penitenciário, o drama das famílias dos condenados, tão doloroso muita vez quanto o das famílias das vítimas”.
De toda sorte, para além da própria composição de “Recordações da Casa dos Mortos”, podemos tirar algo mais de positivo da dolorosa experiência de Dostoiévski: o incontestável florescimento da genialidade literária do autor de “O jogador”. Afinal, como disse Friedrich Nietzsche (1844-1900), “o que não me faz morrer me torna mais forte” (dito que é uma versão mais chique do nosso “o que não mata, engorda”). Nietzsche, por sinal, dizem, considerava Dostoiévski o único “psicólogo” com o qual teve algo a aprender.
De fato, como nos recorda Lemos Britto, “é comumente aceito e afirmado pelo próprio Dostoiévski, que após a simulação da execução, ele passou a apreciar a vida de uma maneira muito diferente da anterior, iniciando um processo de transformação existencial, literária e política, que estaria terminada quando de seu retorno a São Petersburgo, 10 anos depois”. Aliás, em texto introdutório à recente edição de “Memórias da casa dos mortos” da Editora Nova Fronteira (2018), intitulado “Dostoiévski e a Casa dos Mortos”, Otto Maria Carpeaux também anota: “Comparem-se as obras que Dostoiévski escreveu antes do exílio siberiano – Gente pobre (1846) ou Noites brancas (1848) – com as obras pós-sibéria: Crime e Castigo, O idiota etc. até Os Irmãos Karamázov: a mudança não é somente de amadurecimento intelectual, espiritual e literário. O homem parece outro, o escritor parece outro. Foi, evidentemente, profunda a influência exercida pelos anos de trabalhos forçados na prisão de Omsk”.
Bom, eu nunca estive preso. Deus me livre de um dia ser. E nem que fosse para ser um novo Dostoiévski.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

20/09/2019




OUTRA VISÃO DE TAIPU
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, sócio do IHGRN

                Compulsando a recente publicação da Revista nº 98 (julho de 2019), do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, deparei-me com dois arquivos que se entrelaçam na história de dois municípios da nossa zona da mata – Taipu e João Câmara (Baixa Verde).
        Sem renegar as informações dos seus autores, respectivamente João Batista dos Santos e Aldo Torquato, senão o meu desconhecimento da inimizade entre João Câmara e o Desembargador João Maria, decidi complementar alguma coisa dos textos, pelo fato das minhas raízes com o lugar Pitombeira, então do meu avô, Coronel João Gomes da Costa, terra onde nasceu meu pai, Desembargador José Gomes da Costa.
        O nome Taipu, segundo alguns historiadores, vem da linguagem dos índios potiguares (primitivos habitantes): Itaipi (era um aldeamento indígena), consoante citação do padre Manuel de Morais, apud CASCUDO, localizada a sete milhas ao oeste do Rio Grande do Norte. Mas poderia ser, também, de Itaipu, que significa pedra preta, tipo de solo arenoso existente naquela região, de tabuleiro com partículas silicosas, pedras e minérios, nas terras do Tapuio.
        Noticia-se que em 1645, durante o domínio holandês já se convivia com aldeias indígenas chefiadas por Antônio Papapeba.
        Ainda invocando o Mestre CASCUDO, ali existia em 1709 um poço de Manoel Rodrigues Coelho, nas terras da Fazenda Tabuleiro do Barreto, de propriedade de Antônio Alves da Rocha, que chegou a possuir olarias. Mas igualmente possuía massapé, nos vales úmidos, com húmus de arisco que se prestava a cultivo de cereais – mandioca, fruticultura, sem desprezar a criação de gado. Também solo
        O nome inicial da povoação, já em fase de colonização era conhecido como “Picada”, abertura onde começa o sertão até o Mato Grande (zona da mata). O início do seu desenvolvimento aconteceu no século XIX, com a participação dos fundadores do povoado Jorge Pegado Galvão, Marcos Pereira dos Santos, Bernardo Gadelha, André Soares da Silva e Joaquim José da Costa, alcançando as cercanias das povoações Barreto, Poço Branco, Gameleira, Contados, Boa Vista e Pitombeira, chegando a alcançar terras das localidades Ceará-Mirim, Extremoz, Genipabu, Muriú e Taipu.
        Depós, são registrados alguns beneficiamentos: em 1851 foi concluída uma capela em louvor a Nossa Senhora do Livramento, após trinta anos de labuta, sendo anualmente comemorada desde novembro de 1913; em 1864 criou-se uma escola; em 28 de junho de 1889 o distrito de Picada mudou seu nome para Taipu, ganhando Delegacia de Polícia e sendo desmembrada de Touros para Ceará-Mirim.  Em 10 de março de 1891 a Vila foi desmembrada de Ceará-Mirim pelo Decreto nº 97 do então Governador provisório Francisco Amintas da Costa Barros, sendo seu primeiro intendente o Capitão Candido Marcolino Monteiro. Fez-se Freguesia em 18 de abril de 1913 e Comarca em 16 de janeiro de 1960.
        Contudo, o seu desenvolvimento efetivo só aconteceu no final do século XIX, mas sobretudo no começo do século XX, com atividade econômica sustentável na avicultura, agricultura, pecuária e exploração de pedreiras. A Vila tornou-se cidade (Município) em 29 de março de 1938, quando era prefeito Rosendo Leite da Fonseca.
Estudos mais aprofundados foram desenvolvidos pelos escritores da região, JOSÉ HUMBERTO DA SILVA e TEREZINHA DIAS DA SILVA que escreveram o livro “Genealogia e História de Quatro Famílias Taipuenses”, preservando fidelidade às raízes da Terra Taipu, mostrando a saga dos pioneiros que, pondo de lado as vicissitudes da região, deram seu suor e sangue pela esperança visionária de alcançar prosperidade econômica, política e religiosa, ao mesmo tempo em que lhes prestam um justo tributo. Afinal, quem não cultua o seu passado não encontrará rumo do futuro.
        Taipu fez-se Vila e foi conduzida gozando o respeito do povo e de Deus, gerando uma povoação rica de homens de bem, na concepção preconizada por Mateus, 5. 44 a 48, tanto que doou ao mundo alguns descendentes de Mártires de Cunhaú e Uruaçu.
        No entanto, é mister que se faça justiça a alguns taipuenses que se destacaram pela dedicação de suas famílias, em particular quatro delas, aqui retratadas como as famílias que se seguem, três das quais de um mesmo tronco: Miranda, desenvolvida do nascedouro português de João Gomes Carneiro, que se casou com Ana Ferreira de Miranda e alargou-se com os Rodrigues Santiago (da Silveira), Câmara (Boa e da Silva), Severiano da Câmara,  Azevedo, Peixoto, Torres, Arruda, Soares, Pereira, Paiva, Paula, Amaral Lisboa, Ferreira (da Cruz, de Miranda), Leite da Fonseca, Furtado Menezes e Gomes da Costa; a família Rodrigues Santiago que ampliou sua estirpe com os Gomes da Costa (da Silva), os Praxedes, os Melo, os Rodrigues da Silveira, posteriormente com os Raposo da Câmara, Rabelo Dantas, Alves de Medeiros, Rego, Galvão, Urbano de Araújo, Amaral de Andrade, Leite da Fonseca e outros, partidos dos embriões de Jerônimo Ferreira de Miranda e Felipa Rodrigues da Silveira; segue-se a família do Coronel João Gomes da Costa, da qual sou oriundo, do tronco Manoel Gomes da Costa e Cândida da Costa Gadelha, que se tornou dona dos povoados Gameleira e Pitombeira onde teve feira livre e parada de trem onde se deu o início da bela trajetória de João Severiano da Câmara, casado com Maria (AA), cujo patriarca entrelaçou-se com as irmãs Bernardina e Anna Rodrigues Santiago, construindo uma prole numerosa. Esta última, por sua vez, era viúva de Sérgio Guedes da Fonseca, tendo, ainda, o concurso dos Gomes de Araújo, vindos da Paraíba, os Gomes de Almeida, Borges, Cunha Lima, Nobre da Costa, Ferreira da Costa (da Cruz), Soares da Câmara (da Silva, Severiano, Arruda), Leite da Fonseca, Furtado, Menezes, Rodrigues da Silva; completando o estudo temos a família Ponte ou  Pontes, que tem origem espanhola/portuguesa de Bartolomeu Pontes casado com Margarida Ribeiro, cujas raízes nordestinas (Ceará) surgem de Gonçalo Ferreira de Pontes, casado com Maria de Matos Coutinho, ele filho de Cosme de Freitas Pereira e Joana Barros Rego Coutinho até Alexandre Ferreira de Pontes – o grande patriarca, sendo que o ramo de Taipu surgiu de Manoel Alexandre de Pontes e Francisca Florentino(a) de Pontes, com o entrelaçamento das famílias Vieira, Gomes Costa, Aguiar e Bezerra de Menezes, do Estado do Ceará.
        Com estas poucas linhas não tenho o atrevimento de apresentar nenhuma informação definitiva da terra taipuense, mas apenas apontar uma bibliografia mais consentânea com a realidade, com indicação de autores que efetivamente têm o peso necessário para traçar a história, os costumes e as tradições da terra dos papagaios.


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Obras consultadas:
CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte, Natal e Rio de Janeiro: Ed. FJA e Achiamé, 1984.
_________________ História de Um Homem (João Severiano da Câmara), Natal: DIRN, 1954.
LYRA, Augusto Tavares de. História do Rio Grande do Norte, Brasília: Gráfica do Senado, 2012.
MORAIS, Marcus Cavalcanti de. Terras Potiguares, Natal: Ed. Foco, 2004.
NOBRE, Manuel Ferreira. Breve História Sobre a Província do Rio Grande do Norte. Natal: Sebo Vermelho Edições, 2011 (reprodução da impressão de 1877).
SILVA, José Humberto da. Centenário de Fundação da Paróquia de Taipu – Ação e Fé, Natal, Ed. Do autor, 2013.
_______________ A Vila de Taipu e as famílias Ferreira da Cruz e Boa da Câmara, Natal, Ed. Do autor, 2011.
_______________ em parceria com SILVA, Terezinha Dias da. Genealogia e História de Quatro Famílias Taipuenses, Natal, 2019 (no prelo).




Índios do Rio Grande do Norte
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em sociologia e história. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN

As tribos ou sociedades indígenas são classificadas através de suas respectivas afinidades linguísticas, pela identidade cultural e pela homogeneidade de costumes, mas é a língua o principal elemento de aglutinação dos diferentes grupos. No Brasil há duas linguagens básicas principais: a Tupi, que possui sete famílias linguísticas, inclusive a tupi-guarani, e a macro-jê, com cinco, entre as quais a família jê. Afora essas duas, há as línguas aruak, karib, tukâno, pomo e guaykuru, que formam grupos independentes.
No início do período colonial existia no Rio Grande do Norte uma grande população de nativos das raças tupi e, principalmente, cariri. Do primeiro grupo, os potiguares. Cariris eram os paiacus, paiins, monxorós, pegas, caborés, icozinhos, panatis, ariús, janduís e outros grupos. Como resultado do apresamento, miscigenação, doenças exógenas e o extermínio promovido pelos colonizadores, houve um rápido decréscimo desse contingente. Exemplo foi o que ocorreu em 1597, quando uma epidemia de varíola se espalhou pelo Nordeste do Brasil, matando indistintamente colonizadores e indígenas. A sua violência foi de tal monta que retardou a colonização do Rio Grande do Norte.
            O extermínio dos índios no Estado teve início (e maior proporção) no século XVII. A guerra entre portugueses e holandeses, além de outras causas, forçou um grande contingente de indígenas do Rio Grande a emigrar para outros lugares; Paraíba e, principalmente, Ceará. O nível populacional silvícola já era crítico, conforme relata Nieuhof (1981): “Em 1640, a população aborígine de Ceará aumentou consideravelmente. [...] Por outro lado o Rio Grande se achava quase deserto Assim, André Vlijfs propôs ao Grande Conselho fundar uma aldeia no Rio Grande para lá instalarem os habitantes de Ceará que o desejassem fazer. Inteirado, o conde Maurício e o Grande Conselho, das aspirações de alguns habitantes de Ceará, desejosos de se estabelecerem no Rio Grande, sua terra Natal, [...] atenderam a sugestão.
Exemplo de liquidação planejada dos índios em solo potiguar foi a campanha de Afonso de Albertin na Ribeira do Açu, que visou dizimar os janduís. Os poucos sobreviventes foram aprisionados e levados para Recife como presentes ao governador de Pernambuco. Chegando ali foram comercializados em praça pública, como escravos. Os bandeirantes Domingos Jorge Velho e Matias Cardoso, também deixaram rastro, sendo os responsáveis pelo massacre e pela prisão de índios cariris, especialmente os janduís, em meados de 1689, durante a chamada Guerra dos Bárbaros, Guerra do Assú ou Confederação dos Cariris, que durou de 1680 a 1729 e atingindo quase toda a região nordeste da colônia, porém o principal palco das lutas foi o Rio Grande do Norte. “Os índios capturados durante a Guerra dos Bárbaros, por exemplo, foram vendidos na cidade de Natal” (HEMMING, 1999).   
            Falando sobre o declínio dessa população, a professora Fátima Lopes (www.pgr.mpf.gov.br) diz que, “de acordo com informações de Jesuítas, datadas do início da colonização ao século 18, havia uma grande quantidade de índios na região litorânea de nosso Estado. Só nas imediações de Natal, eram cerca de 6 mil nativos, em aproximadamente cem aldeias”. Diz ainda, que em 1603 vinte e seis aldeias dos potiguaras haviam desaparecido. Restavam apenas sessenta e quatro, na mesma região. Em 1613, dez anos depois, eram apenas oito aldeotas. Em 1627, Domingos da Veiga Cabral (Apud HEMMING, 1999) relata que havia “pouco mais de 300 flecheiros divididos entre quatro aldeias. Costumava haver uma quantidade tão grande deles que seus números não eram conhecidos”. O número de aldeamento foi corrigido em 1639 por Adriaen van der Dussen (Drussen) – (1947), em seu Relatório sobre as Capitanias Conquistadas no Brasil pelos Holandeses, eram cinco. O censo de 1844 registrou pouco mais de seis mil indígenas na Província.