Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura
Nascido no abrasado
Seridó, soube honrar as tradiçoões de seus antepassados, cultuando os
ensinamentos cristãos no cerne da família e transmitindo aos círculos de amizade.
A sua atividade social foi traçada por uma linha sem
deflexões. Em Caicó, ainda moço, foi atraído pelo canto mavioso da sereia da
Política, elegendo-se Vereador, nos verdes anos primaveris. Esse único mandato
legislativo foi qual sonho de uma noite de verão... para a carreira política
iniciada.
A fim de continuar seus estudos, iniciados no Ginásio
Diocesano, veio para Natal onde estudou no Colégio Pedro II, sediado na
Ribeira, próspero bairro da época. Esse aprendizado levou-o ao Recife,
metrópole adiantada de então, onde cursou Filosofia e fez o CPOR, na idade
própria da sua convocação para Reservista, recebendo a espada, símbolo do
oficialato.
No retorno ao torrão potiguar, submeteu-se ao
vestibular de Direito, tendo sido, durante o bacharelado, eleito presidente do
Diretório Acadêmico, pelo prestígio de sua liderança.
Diplomado, a exemplo de colegas veteranos, efetuou os
primeiros ensaios nas lides advocatícias. Vocacionado para o magistério, com o
tempo, tornou-se educador, não somente em sala de aula, mas, também, ocupando
cargos públicos dos mais importantes, na Pasta da Educação, fazendo parte, por
um espaço de tempo, do seu egrégio Conselho.
Depois, ingressou no quadro da Procuradoria Geral do
Estado, no cargo de Procurador, servindo, durante anos na Secretaria da
Educação, dirigindo o Setor Jurídico. E o fez com a devida competência.
Aposentado, após algum tempo, participou da criação da
Academia de Letras Jurídica, do Rio Grande do Norte, como Acadêmico, na Cadeira
nº 35, cujo Patrono é o Professor Otto de Brito Guerra, parente próximo, seu
conselheiro e amigo, que, na intimidade, chamava-o de “Tio Ótimo”!
Nesse cenáculo lítero-jurídico, desempenhou afazeres
relevantes, fazendo parte da sua organização interna, no cargo de Diretor da
Revista. Em reuniões solenes, teve ele a grata oportunidade de proferir
palestras e orações outras, da sua tribuna, sempre prestigiando, com sua
presença e participação, esses encontros culturais.
Na Revista que dirigia, escreveu num de seus números,
em sua Apresentação: “A Revista da Academia deve cultivar as Humanidades,
tornando obrigatória a existência de espaço para exposição de temas
humanísticos e científicos, sobre aqueles uma vista quanto ao majestoso
conjunto das ciências que lhe são próprias, o campo do pensamento, da
imaginação, da memória e das artes. Ensaios ou análises referentes à ciência e
à cultura, aos estudos de diferentes tendências para análise múltipla. Visão
tecnicista ou pragmática sobre material de excepcionalidade.
Enfim, haverá um plano para a fixação, a visão de
novas perspectivas, sugestões ou repensar metódico do que se constata nos
conhecimentos hodiernos, propostas e conclusões e até sugestões de mudanças
estruturais. Órgão de instituição que vivencia a ciência e a cultura do
Direito, impossível suas páginas não transparecerem os debates que lhe são
próprios, existenciais, compatíveis com as necessidades do povo e do seu meio”.
A sua vida foi, toda ela, ligada a ocupações de ordem
sócio-intelectual, tendo pertencido ao Rotary Club, onde a sua dedicação à
causa levou-o ao posto de alta confiança, de seus confrades, o de Governador,
por um mandato, repleto de realizações.
Outras instituições culturais tiveram-no como
integrante, inclusive o Instituto Histórico e Geográfico do RN, onde no vetusto
e tradicional casarão, realizou pesquisas, durante algum tempo.
Nos seus estudos alicerçou apreciável lastro cultural
em literatura e noutros domínios do saber. Deixou pesquisas anotadas e escritos
inéditos. Tinha mente ativa e curiosa.
Era dotado de uma Fé inquebrantável. Na idade madura a
saúde física sofreu cruel abalo, somente vencido por pessoas abençoadas. Dos
olhos marejados, pelo doloroso sofrimento, afastou, naquela ocasião, pela graça
de Deus, a maldição da morte, que abatera à sua porta, antes da hora.
Muita coisa boa teria, ainda, de realizar na vida, com
sua família, sempre unida ao seu lado. E esse tempo precioso seria-lhe
concedido pela bondade da divina Onipotência, que tudo pode.
As continuadas ocupações sociais de Luciano, livram-no
dos momentos de dissipação, por muitos experimentados. Tais ocupações ocuparam
o seu espírito afeito às generosas realizações.
O labor bem direcionado, na razão de ordem temporal,
espiritual e ética, conduziram-no às boas obras. Tudo, na convergências de um
resultado satisfatório à alma e ao
intelecto, desabrochando, daí pensamentos positivos.
Avizinhando-se da idade octogenária, dentre outros
afazeres, ofertou-se de corpo e alma, à causa do catolicismo, dando
continuidade à sua crença, arraigada desde a infância, por transmissão
hereditária. Prestou, assim, na fase derradeira, serviços a uma Capela do seu
bairro, acompanhado de amigos do mesmo credo religioso.
Fecho feliz, o da página final do livro da sua vida!
A esposa, Deuze, e filhos, muito contribuíram para
tamanho sucesso, o da sua trajetória luminosa, e que sua despedida final ocorresse
em ambiente de plena paz.