|
10/03/2017
H O J E
ACADEMIA DE LETRAS JURÍDICAS DO RIO
GRANDE DO NORTE
A L E J U R N
COMUNICAÇÃO Natal, 03 de fevereiro de 2017
Estimado Confrade,
Comunicamos que no
próximo dia 10 do mês março próximo vindouro, no período de 9 às 17 horas
estaremos recebendo os votos para a eleição do novo (a) acadêmico (a) para a
cadeira nº 03 – Patrono ALVAMAR FURTADO DE MENDONÇA, para a qual se inscreveram dois candidatos:
FRANCISCO HONÓRIO DE MEDEIROS FILHO e ISABEL HELENA MARINHO.
Por oportuno, informamos que o voto poderá
ser sufragado por correspondência, nos termos do Regimento Interno vigente,
desde que entregue à Comissão Eleitoral dentro do prazo do processo de votação
ou pelo processo eletrônico aos cuidados do Presidente da Comissão Eleitoral
JURANDYR NAVARRO DA COSTA, através do endereço: alejurn2007@gmail.com
Qualquer
dúvida poderá ser esclarecida através do telefone 3232-2890.
Respeitosamente
________________________________
LÚCIO TEIXEIRA DOS SANTOS
Presidente da ALEJURN
09/03/2017
BAR
GATO PRETO E PENSÃO DA ESPERANÇA
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
01) Na chamada "Cinco
Bocas", território humano e sentimental de Macaíba, não existe mais o bar
"Gato Preto", que tem suas origens nos primórdios da
"civilização". Foram mais de cem anos de história viva, de pastores
da terra, das nuvens, das estrelas, queimando vigílias na província submersa.
Chão sagrado de antepassados, povoado de rostos ocultos, de figuras pálidas por
longas noites assombradas. Nele vislumbro os vultos inaugurais de Zé Solon,
Alberto Silva, Chico Cajueiro, Lula Ramos, Jorge Chocalheiro, Zé Pelado, Manoel
Sabino, Chico de Dulce, Banga, Sinval Duarte, Manoel Pixilinga, Jorge de Papo,
Odilon Benício, entre tantos outros que desapareceram vítimas do tempo, esse
astrólogo arbitrário. As “Cinco Bocas” ferinas, são cinco ruas que deságuam
como um rio noturno na intimidade simples dos lençóis de minha terra. Rua do
Cajueiro, rua do Benjamim, beco de seu Alfredo, beco do Mercado e rua da Cruz.
Esse pedaço de chão no centro de Macaíba carrega a saga lírica, popular e
mística de muitos obreiros que gastavam saliva diariamente no pórtico de suas
entranhas, de suas calçadas. O "Gato Preto", sempre foi o antigo
desterro de mim mesmo, da infância perdida mas petrificada no silêncio de suas
paredes. Mas, o que importa é que por onde andei eu carreguei o seu andor.
Mesmo deformado fisicamente, o seu espírito vive. Basta contemplá-lo e
deixar-se envolver na sua atmosfera densa, no centro de Macaíba. Era um bar,
com todos os seus habitantes. Figuras opacas, empíricas, etílicas. Todos
reduzidos a humanidade comum. Todos crentes de que a verdade e a vida nunca
estão num único sonho mas em muitos. Era o nosso “Grande Ponto” que tombou e
morreu como o de Natal. Tanto ontem quanto hoje, caracterizou-se como um
cenário profuso e difuso, tecido de conversas banais, de palavras soltas,
malandras, boatos, chafurdos soprados pelo errante vento da esquina. Tudo
coisas fugidias: prateleiras, garrafas solitárias e eternas, sinucas, bilhares.
Todos os seus notívagos caminheiros são incertos, dispersos e derradeiros. Aí
de nós se não fosse o mistério do nome, do 13, do “Gato Preto”. Por que “Gato
Preto”? Não sei. As coisas misteriosas são fascinantes.
02) Na primavera política
do início dos anos sessenta no Rio Grande do Norte, pontificava na província
submersa de Macaíba, a imbatível Pensão da Esperança. Nasceu no fragor das
lutas eleitorais e foi a nau catarineta do aluizismo. Nela singrava o mar
encapelado da política macaibense, a capitã de longo curso e minha prima
Graziela Mesquita. Bacurau de cinco estrelas, Grazi era uma das dissidências
dos Mesquita. Situada à rua de Nossa Senhora da Conceição, a Pensão da
Esperança, era também o Porto Seguro das caravanas, das manifestações
aluizistas e quem fosse arara jamais seria hóspede. Graziela solteirona
invicta, mas parecia uma matrona romana. Andava nas pontas dos pés, como se
fosse desabar de frente. Pesava-lhe muito o imenso busto-arbusto. Elétrica,
vibrante, frenética e fanática, era simpática com todos os seguidores da causa.
Nesses tempos trepidantes tivemos uma relação política difícil mas respeitosa.
Isso influiu, para que, mas tarde, tornássemos correligionários, até a sua
morte. A Pensão da Esperança era o termômetro político da cidade mas também o
alvo possível das manifestações hostis do dinartismo radical. De quando em vez,
ocorriam "atentados à bomba" no recinto, obra de alguns
ativistas sorrateiros para perturbar o sossego de Graziela e testar o seu
prestígio. Mas, nem era preciso. Como um raio, riscava à porta o delegado de polícia
para as necessárias averiguações e prisão dos culpados. Grazi era intocável, um
patrimônio tombado e vivo da cruzada da esperança. Outro enfoque político digno
de nota, era a sua fiel ala-moça, treinada para cantar as canções de Aluízio. "Cigano
feiticeiro, teu feitiço, ai meu Deus, eu faço tudo, tudo pelo governo seu e o
eleitor o que deve fazer? É virar cigano e votar com você". Isso sem
falar na canção principal que dizia que "Aluízio Alves veio do sertão,
lá do Cabugi...". Assim se passou uma página folclórica, melódica,
ingenuamente dramática e humana da vida política de Macaíba, que teve na Pensão
da Esperança o oxigênio natural desse mundo frágil e encantado. O seu antigo
endereço desapareceu com a sua proprietária, só restando a memória visual e
auditiva da reconstituição dos gestos, das verdes bandeiras pandas ao vento, do
ruído da multidão, da silhueta de Graziela, tudo como uma saudade suspensa no
ar, mas renovada todas as vezes que passo pela calçada.
(*) Escritor.
08/03/2017
PARABÉNS
Dia Internacional da Mulher
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dia Internacional da Mulher | |
---|---|
Poster alemão de 1914 em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, conclama o direito ao voto feminino. | |
SEGUIDO POR: | |
África do Sul, Albânia Angola, Argélia, Argentina, Arménia, Azerbaijão, Bangladesh, Bélgica, Bielorrússia, Butão, Bósnia e Herzegovina, Brasil, Bulgária, Burkina Faso, Camboja, Camarões, Chile, China, Colômbia, Croácia, Cuba, Chipre, Equador, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Dinamarca, Finlândia, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Ilha de Formosa, Índia, Itália, Islândia, Israel, Laos, Letónia, Lituânia, Cazaquistão, Kosovo, Quirguistão, Macedónia, Malta, México, Moldávia, Mongólia, Montenegro, Nepal, Noruega, Polónia, Portugal, Roménia, Rússia, Sérvia, Suécia, Síria, Tadjiquistão, Turquia, Turquemenistão, Ucrânia, Uzbequistão, Vietname, Zâmbia | |
DATA: 8 de Março | |
OBSERVAÇÕES: Relembra as lutas sociais, políticas e econômicas das mulheres. |
O Dia Internacional da Mulher é celebrado em 8 de março. A ideia de criar o Dia da Mulher surgiu no final do Século XIX e início do século XX nos Estados Unidos[1] e na Europa, no contexto das lutas femininas por melhores condições de vida e trabalho, de direito de voto. Em 26 de agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em Copenhaga, a líder socialista alemã Clara Zetkin propôs a instituição de uma celebração anual das lutas por direitos das mulheres trabalhadoras.[2][3]
As celebrações do Dia Internacional da Mulher ocorreram a partir de 1909 em diferentes dias de fevereiro e março, a depender do país [1]. A primeira celebração se deu em 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, seguida de manifestações e marchas em outros países europeus nos anos seguintes, usualmente durante a semana de comemorações da Comuna de Paris, ao final de março. As manifestações uniam o movimento socialista, que lutavam por igualdade de direitos econômicos, sociais e trabalhistas ao movimento sufragista, que lutava por igualdade de direitos políticos. Em 1910, durante uma conferência internacional das mulheres, que antecedeu a realização da reunião da Segunda Internacional Socialista de Copenhague, Dinamarca, foi estabelecido o Dia Internacional da Mulher, celebrado no ano seguinte no dia 19 de março por meio de numerosas manifestações em países como Alemanha, Áustria-Hungria, Dinamarca e Suíça[4].
Posteriormente, no início de 1917 na Rússia, ocorreram manifestações de trabalhadoras russas por melhores condições de vida e trabalho e contra a entrada da Rússia czarista na Primeira Guerra Mundial. Os protestos foram brutalmente reprimidos, precipitando o início da Revolução de 1917.[5][6] A data da principal manifestação, 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), foi instituída como Dia Internacional da Mulher entre o movimento internacional socialista.
Após 1945, a data tornou-se principalmente um feriado comemorado nos países do chamado bloco comunista. Em 1955, segundo as autoras francesas Liliane Kandel e Françoise Picq, surgiu o mito de que a data teria como origem a celebração da luta e da greve de mulheres trabalhadoras do setor têxtil em Nova York em 1857 que haviam sido duramente reprimidas pela polícia ou mortas em um incêndio criminoso na fábrica, segundo diferentes versões do mito. Não há indícios de que isso tenha ocorrido e segundo as autoras, a origem desta versão ocorreu entre feministas francesas que durante a Guerra Fria buscavam uma origem à comemoração que estivesse desvinculada da história da luta socialista [7] [8].
Na antiga União Soviética, durante o stalinismo, o Dia Internacional da Mulher tornou-se elemento de propaganda partidária. Também era amplamente celebrado nos países do bloco socialista na Europa Ocidental.
Nos países ocidentais, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado no início do século, até a década de 1920, tendo sido esquecido por longo tempo e somente recuperado pelo movimento feminista na década de 1960. Na atualidade, a celebração do Dia Internacional da Mulher perdeu parcialmente o seu sentido original, adquirindo um caráter festivo e comercial. Nessa data, os empregadores, sem certamente pretender evocar o espírito das operárias grevistas do 8 de março de 1917,[8] costumam distribuir rosas vermelhas ou pequenos mimos entre suas empregadas.
Em 1975, foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e, em dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas Nações Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres.[9]
Origem
A ideia de instituir o Dia Internacional da Mulher surge na virada do século XX, no contexto da Segunda Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial, quando ocorre a incorporação da mão-de-obra feminina, em massa, na indústria.
O primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, por iniciativa do Partido Socialista da América, em memória do protesto das operárias da indústria do vestuário de Nova York contra as más condições de trabalho. [10]
Em 1910, ocorreu a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhaga, dirigida pela Internacional Socialista, quando foi aprovada proposta da socialista alemã Clara Zetkin, de instituição de um Dia Internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada.[11][12]
No ano seguinte, o Dia Internacional da Mulher foi celebrado a 19 de março, por mais de um milhão de pessoas, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça.[4]
Poucos dias depois, a 25 de março de 1911, um incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist mataria 146 trabalhadores - a maioria costureiras. O número elevado de mortes foi atribuído às más condições de segurança do edifício. Este foi considerado como o pior incêndio da história de Nova Iorque, até 11 de setembro de 2001. Para Eva Blay, é provável que a morte das trabalhadoras da Triangle se tenha incorporado ao imaginário coletivo, de modo que esse episódio é com frequência desde a década de 1950 erroneamente considerado como a origem do Dia Internacional da Mulher.[13] [14]
Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Christiania (atual Oslo), contra a guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin faz uma conferência sobre a mulher.
Na Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram o estopim da Revolução russa de 1917. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), a greve das operárias da indústria têxtil contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que resultaram na Revolução de Fevereiro. Leon Trotsky assim registrou o evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”. [8]
Após a Revolução de Outubro, a feminista bolchevique Alexandra Kollontai persuadiu Lenin para torná-lo um dia oficial que, durante o período soviético, permaneceu como celebração da "heroica mulher trabalhadora". No entanto, o feriado rapidamente perderia a vertente política e tornar-se-ia uma ocasião em que os homens manifestavam simpatia ou amor pelas mulheres - uma mistura das festas ocidentais do Dia das Mães e do Dia dos Namorados, com ofertas de prendas e flores, pelos homens às mulheres. O dia permanece como feriado oficial na Rússia, bem como na Bielorrússia, Macedónia, Moldávia e Ucrânia.
Na Tchecoslováquia, quando o país integrava o Bloco Soviético (1948 - 1989), a celebração era apoiada pelo Partido Comunista. O MDŽ (Mezinárodní den žen, "Dia Internacional da Mulher" em checo) era então usado como instrumento de propaganda do partido, visando convencer as mulheres de que considerava as necessidades femininas ao formular políticas sociais. A celebração ritualística do partido no Dia Internacional da Mulher tornou-se estereotipada. A cada dia 8 de março, as mulheres ganhavam uma flor ou um presente do chefe. A data foi gradualmente ganhando um caráter de paródia e acabou sendo ridicularizada até mesmo no cinema e na televisão. Assim, o propósito original da celebração perdeu-se completamente. Após o colapso da União Soviética, o MDŽ foi rapidamente abandonado como mais um símbolo do antigo regime.
No Ocidente, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado durante as décadas de 1910 e 1920. Posteriormente, a data caiu no esquecimento e só foi recuperada pelo movimento feminista, já na década de 1960, sendo, afinal, adotado pelas Nações Unidas, em 1977. A data mantém hoje relevância internacional, e a própria ONU continuava a dinamizá-la, como sucedeu em 2008, com o lançamento de uma campanha, “As Mulheres Fazem a Notícia”, destinada a chamar a atenção para a igualdade de gênero no tratamento de notícias na comunicação social mundial. [15]
Referências
- Ir para cima ↑ International Womens Day, 8th March. The University of Queensland, Australia.
- Ir para cima ↑ Díaz, René (29 de abril de 2007). «Diplô - Biblioteca: Copenhague, contracultura e repressão:». René Vásquez Díaz. Consultado em 8 de março de 2016
- Ir para cima ↑ «Alexandra Kollontai 1920. International Womens' Day». Consultado em 8 de março de 2016
- ↑ Ir para: a b Eva Alterman Blay (8 de março de 2010). «As mulheres faziam parte das "classes perigosas"». Carta Maior. Cartamaior.com.br
- Ir para cima ↑ About International Women's Day (8 March) internationalwomensday.com
- Ir para cima ↑ International Womens Day, 8th March
- Ir para cima ↑ «ON THE SOCIALIST ORIGINS OF INTERNATIONAL WOMEN'S DAY» (PDF)
- ↑ Ir para: a b c Conquistas na luta e no luto. Ao contrário do que ressalta o imaginário feminista, o 8 de março não surgiu a partir de um incêndio nos Estados Unidos, mas foi fruto do acúmulo de mobilizações no começo do século passado. Por Maíra Kubík Mano. História viva.
- Ir para cima ↑ «Sobre a adoção, pelas Nações Unidas, do dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher». Nações Unidas. Un.org
- Ir para cima ↑ «History of International Women's Day». Nações Unidas. Un.org
- Ir para cima ↑ «History of the Day». Nações Unidas. Un.org
- Ir para cima ↑ A woman's place is in the revolution. Elizabeth Schulte conta a pouco conhecida história do Dia Internacional da Mulher. 8 de março de 2011.
- Ir para cima ↑ Cinderela M. F. Caldeira. «Dia Internacional da Mulher». Revista Espaço Aberto. Usp.br
- Ir para cima ↑ «ON THE SOCIALIST ORIGINS OF INTERNATIONAL WOMEN'S DAY» (PDF)
- Ir para cima ↑ Como Tudo Funciona
07/03/2017
Fernando Pessoa, o nada que é tudo
24/02/2017
texto Gustavo Sobral e ilustração Arthur Seabra
Foi Fernando, antes de ser Pessoa – dito assim por Saramago, outro
super Camões. E de pessoa passou a mito no retrato que se apaga no
tempo, enquanto o tempo lhe constrói o mito. É aquilo mesmo que ele
vaticinou em Mensagem, único livro publicado em vida: é o nada que é
tudo. Sua poesia não publicada é cânone e um arrepio de descoberta. É
bom que se adiante que foi um sendo vários. Criou poetas imaginados com
nome, personalidade, vida e poesia. Fernando Pessoa não foi uma só voz,
foi muitas. Todas as possíveis. Haroldo de Campos, Alberto Caieiro,
Ricardo Reis. Três deles.
Décima segunda entrevista da série entrevistas imaginadas,
quando se falará de e com poetas e escritores, pelo que já disseram em
seus versos e prosa, por isso, imaginadas, mas nunca imaginárias, porque
o fundo da verdade é o que já disse e está estampado no que já
disseram. O entrevistado da vez, como se disse, é poeta, é português, é
Fernando Pessoa. Poeta da beleza e dos mistérios da vida. Aqui respostas
do poeta em versos colhidos em antologias.
Entrevistador: Fernando Pessoa por Fernando Pessoa?
Fernando Pessoa: Este que aqui aportou foi por não ter existido.
E: E o que é de tudo na vida para acontecer?
FP: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
E: E Portugal?
FP: Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. Senhor, falta cumprir-se Portugal!
E: Deus deu ao mar perigo e abismo, não foi poeta?
FP: Mas nele é que espelhou o céu.
E: E o mar?
FP: ó mar salgado, quanto do seu sal são lágrimas de Portugal!
E: E aqueles que acenam um lenço de despedida?
FP: São felizes: têm pena... eu sofro sem pena a vida.
E: E o poeta, quem é?
FP: É um fingidor.
E: Fingidor?
FP: Finge tão completamente e que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.
E: E você, poeta, finge?
FP: Dizem que eu finjo ou minto tudo o que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação.
E: E quem é que deve sentir?
FP: Sinta quem lê!
E: E o que fazer da vida?
FP: Dorme, que a vida é nada! Dorme que tudo é vão!
E: Um conselho, poeta?
FP: Cerca de grandes muros quem te sonhas.
E: Liberdade para o poeta, é...
FP: não cumprir um dever, ter um livro para ler e não fazer!
E: És o que poeta? [Álvaro de Campos, um dos heterônimos toma a palavra, e responde]
Álvaro de Campos: Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
E: E quem foi tu, Álvaro de Campos?
AC: fui como ervas, e não me arrancaram.
E: E o que faz da vida?
AC: enquanto não morro, falo e leio.
E: E o que lhe ensinou a vida? [Alberto Caeiro, outro heterônimo, toma a palavra]
Alberto Caeiro: eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: as coisas não têm significação: têm existência.
E: E foi feliz?
AC: fui feliz porque não pedi cousa alguma, nem procurei achar nada.
E: Afinal, o que escreve a pena do poeta? [surge então Sá Carneiro, outro heterônimo, e encerra a entrevista, respondendo por todos]
Sá Carneiro: tenho uma pena que escreve aquilo que eu sempre sinta... se é mentira escreve leve. Se é verdade, não tem tinta.
06/03/2017
ACONTECEU HÁ DUZENTOS ANOS
A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
Por:
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES
Desde a expulsão
dos holandeses em 1654 ficou latente um ideal nativista movido pela repulsa à discriminação
dos portugueses em favor dos seus patrícios, agravada com as dificuldades
oriundas de uma grande seca em 1816, gerando o contraste de uma exacerbação
tributária e a escassez de mercantilização da produção do açúcar e do algodão e
consequente período de miséria da população. Pernambuco teve papel de destaque
no movimento, pela sua pujança econômica, ganhando o epíteto de “Leão do
Norte”.
Esse
descontentamento foi acrescido devido ao surgimento de ideais libertários
advindos da Revolução Francesa e da Independência dos Estados Unidos frente à
Inglaterra, despertando igual aspiração na América latina, caracterizada pelos
desencontros na convivência entre os nativos e os reinóis.
Foi fundamental o evidente
espírito eclesiástico então desenvolvido com a criação do Seminário Episcopal
de Olinda, composto de intelectuais de profunda formação filosófica e política
que levou a constituição de sociedades secretas, a partir da loja Areópago de
Itambé, da Academia do Cabo e outras, máxime quando em 1814 foi fundada a Loja
Maçônica Patriotismo, agregando Padres de grande valor, dentre os quais o
potiguar Padre Miguelinho (Miguel Joaquim de Almeida e Castro), Frei Caneca
(Joaquim do Amor Divino Rabelo) e, ainda, os Padres José Inácio de Abreu e Lima
(Roma) – sumariamente fuzilado a mando do Conde dos Arcos quando tentava
conquistar adeptos em Salvador, Deão Bernardo Luiz Ferreira e João Ribeiro
Pessoa. A rebeldia contou em Pernambuco com cerca de 50 Padres e 5 Frades, daí
ser conhecida, também, como Revolução dos Padres ou Revolução dos Letrados.
O movimento
emancipatório estava em cogitação para eclodir em 8 de abril com o trabalho de
algumas pessoas da região, como o comerciante Domingos José Martins, oriundo da
Bahia, educado na Inglaterra e com a missão de estimular a criação de lojas da
Maçonaria, Domingos Teotônio Jorge, Antonio José da Cruz (o Cabugá), José de
Barros Lima (o Leão Coroado) e seu genro José Mariano de Albuquerque, José Luiz
de Mendonça, Antonio Carlos de Andrada, Vicente dos Guimarães Peixoto e José
Maria Vasconcelos Bourbon quando, em 6 de março, foi precipitada a rebelião face
a uma ordem do Governo de Pernambuco em 1817, a cargo do Marechal José Roberto
e do Brigadeiro Manuel Joaquim Barbosa de Castro para efetuar a prisão dos
referidos revoltosos, no que este, ao tentar prender José de Barros Lima, foi
pelo mesmo atravessado com sua espada. Nova investida foi ordenada pelo
Governador através do Ten.Cel. Alexandre Tomás, que também tombou morto, provocando
a fuga do Governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro, escondendo-se no
Forte do Brum, depois de um grande confronto, dando início à
revolta.
Foi organizado em 7
de março um governo provisório composto de 5 nomes, com representatividade das
classes que apoiaram o movimento, tendo por Governador o Capitão Domingos
Teotônio, representando o Exército, com apoio do Padre João Ribeiro Pessoa, representando
o Clero, José Luiz de Mendonça, representando a Justiça e que redigiu um
manifesto justificando a revolução, Domingos José Martins, pelo Comércio, Manoel
Correa de Araújo, representando a Agricultura como, também, a participação de outras
pessoas das classes produtoras, da magistratura, e homens considerados
socialmente importantes. A posse ocorreu no dia 9 de março.
O Padre Miguelinho
ficou como Secretário de Interior, mercê da sua grande capacidade de redigir
documentos, coragem, poder de oratória, atributos consolidados com o seu
trabalho de Professor de Teologia.
Miguelinho
pertenceu à Ordem Carmelita da Reforma, onde tomou o nome de Frei Miguel de São
Bonifácio. Contudo, pela diversidade de seus trabalhos, conseguiu do Papa Pio
VII a secularização e ficou conhecido como Padre Miguelinho, haja vista ser um
homem de pequena estatura física em contraste com o seu gigantismo de patriota.
O governo
provisório buscou apoio dos estados mais próximos da região Norte e Nordeste, e
também de outras Nações com resultados pouco frutíferos em razão da pressão das
forças militares portugueses, e pela falta de apoio popular. A Bahia sucumbiu
logo.
Foi criada uma
bandeira na cor azul e branca, meio a meio, com o arco Iris, o sol e a cruz. Há
controvérsias sobre a estrela colocada. Para uns foram 3, representando os
Estados que aderiram (Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte). Mas outros
Estados também se sublevaram, como Alagoas, Bahia e possivelmente contando com
a simpatia do Ceará. O mais provável é que a bandeira preponderante foi criada com
uma única estrela representando Pernambuco.
Para complementar o
Governo, em 19 de março foi escolhido um Conselho ou Junta com mais 5 membros,
composta do Ouvidor Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, o lexicógrafo Antônio de
Morais Silva, o vigário-geral do bispado Deão Bernardo, o português Manuel José
Pereira Caldas e o rico comerciante Gervásio Pires Ferreira.
No dia 18 de maio
houve uma debandada dos revoltosos, ficando Teotônio Jorge como líder único, o
qual no dia seguinte foi obrigado a também refugiar-se no Engenho Paulista.
Em 20 de maio Recife capitulou. O governo provisório durou 75 dias, sendo que alguns líderes, como
Teotônio Jorge, Padre Souza Tenório, Antônio Henriques, Padre Roma e José de
Barros Lima, foram capturados e condenados à morte. O Padre João Ribeiro
suicidou-se. O Padre Miguelinho foi condenado e executado na Bahia. Outros,
como Antônio Carlos, Pedro Ivo e mais cem revoltosos também foram sacrificados,
culminando com o fim da Revolução Pernambucana, que se caracterizou pela
revolta popular em busca do poder e por ser o último movimento revolucionário
antes da Independência do Brasil, em 1822.
Frei Caneca
foi preso e depois solto, participando do movimento da independência de 1822,
depois na República da Confederação do Equador em 1824 até ser condenado à
morte em 13 de janeiro de 1825, dando exemplo de valor e coragem
No nosso Estado,
diante dos rumores de simpatias ao movimento pernambucano, o então Governador
José Inácio Borges, pessoa reconhecida como de espírito culto, em 11 de março
decidiu ter um encontro com o Coronel da Cavalaria Miliciana e grande
proprietário de engenhos André de Albuquerque Maranhão no Engenho Belém (de
propriedade de Luiz Albuquerque), até então seu aliado e em outro lugar próximo
de Papary (Nísia Floresta) e depois com passagem pelos Engenhos Cunhaú, de
André de Albuquerque, em Goianinha e Estivas de outro Andre, primo do primeiro
tentando reforçar a reação aos revoltosos, mas não recebendo apoio para tal
mister.
Após isso, movido
por repreensão do Padre João Damasceno, André foi movido a dar ordem de prisão
ao Governador. Era o dia 28 de março e André de Albuquerque assumia o Governo
Provisório no dia 29, se instalando no prédio da Provedoria da Fazenda (hoje
Memorial Câmara Cascudo).
Para garantir a
sublevação contra a Coroa, o novo Governador contava com pessoas de grande
influência como os Padres João Damasceno Xavier Carneiro e Antônio de
Albuquerque Montenegro, Feliciano José Dornelles e dos membros dos núcleos de
Martins, Portalegre e Apodi, os quais também instalaram seus governos
republicanos no período entre 10 e 19 de maio.
Em verdade, a força
maior que encorajou a instalação do Governo Republicano no Rio Grande do Norte
foi a seleção de 16 oficiais de milícia, alguns parentes do novo mandatário e
outros vindos da Paraíba, liderados pelo jovem miliciano Coronel José Peregrino
Xavier de Carvalho, a quem alguns historiadores se referem como mártir revolucionário potiguar, considerada pessoa simpática e heroica, verdadeiro
guarda de confiança, tanto que, ao ser convocado no dia 24 a retornar à Paraíba
houve um fato de a Matriz de Nossa Senhora da Apresentação tocar 9 badaladas,
que era a senha para uma contra revolta e a retomada do poder, deixando sem
proteção o então governante.
André estava no
palácio despachando quando foi surpreendido no dia 25 de abril por um grupo que
vinha destituí-lo. Nesse momento recebeu uma perfuração com um sabre e foi
conduzido preso para o Forte dos Reis Magos, onde veio a falecer no dia
seguinte (26). Atribui-se, pelo dizer do próprio, que o gesto mortal partiu do cadete
português Antônio José Leite de Pinho, embora ventilado pelo povo como o crime
tenha sido perpetrado por Francisco Felipe da Fonseca Pinto.
Muitos
correligionários negaram a participação e até houve negativa à revolta e ainda
quem tramava contra ela, caso do Padre Feliciano José Dorneles, que foi membro
do Governo Provisório, mas resolver mudar de lado, enquanto outros eram
perseguidos como o Padre Pinto (Manuel Pinto de Castro), irmão de Miguelinho e
duas mulheres, possivelmente as primeiras presas políticas da nossa história
pátria, Bárbara de Alencar, de ilustre família cearense e Clara Joaquina de
Almeida Castro, esta também irmã de Miguelinho.
Registra-se, com o
acontecimento fatídico, gestos marcantes na história, quando a Senhora Ritinha
Coelho, num gesto de respeito, manda que parasse o séquito que conduzia o corpo
do Governador deposto e sobre o cadáver coloca uma esteira nova para servir de
mortalha. O Padre Simão Judas Tadeu faz a encomendação, mas o miliciano João
Alves do Quental, em pleno templo, tripudiou do corpo inerte, ficando sobre ele
com esporas. O sepultamento aconteceu na Igreja Matriz, hoje a Catedral de
Nossa Senhora da Apresentação.
Terminara assim o
efêmero governo republicano no Estado do Rio Grande do Norte, deixando rastros
de heroísmo e espírito cívico a par de outros nem tanto lisonjeiros.
REFERÊNCIAS:
CÂMARA CASCUDO, Luis. História do Rio Grande do Norte, 2ª Ed.FJA, 1984/ 134
az 140.
CASSIMIRO JÚNIOR. A Participação da Capitania do Rio Grande do Norte e da
Maçonari Potiguar na Revolução Pernambucana de 1817. Ed. Gráfia Off Set,
2017.
ENCICLOPÉDIA DELTA LAROUSSE, vol 2. Ed. Delta,
1962/1062 a 1064.
GRANDES PERSONAGENS DA NOSSA HISTÓRIA, vol. II. Abril
Cultural, 1969/333 a 348..
HISTÓRIA DO BRASIL, VOL. Ii. Bloch Editores,
1972/266 a 268.
INTERNET, História Brasileira » Brasil Colônia. Revolução Pernambucana. Artigo de Tiago da
Silva. Data de publicação: 17/03/2010.
|
|
NAVARRO DA COSTA, JUrandyr. Rio Grande do Norte. Os Notáveis dos 500 anos. Ed. Do autor, 2004.
PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL. 400 Nomes de Natal. Coordenação de REJANE CARDOSO, 2.000.
REVISTA DO IHGRN, vol. 94. Artigo de Manoel Marques Filho – Bicentenário da Morte de André de
Albuquerque, 2016.
ROCHA POMBO. História
do Rio Grande do Norte. Ed. Annuario do Brasil, RJ e Renascença
Portuguesa, Porto, março de 1921/237 a 260.
TAVARES DE LIRA, Augusto. História do Rio Grande do Norte. Ed. Senado Federal, vol. 167, 2012.
TESOURO DA JUVENTUDE, vol. 13. Gráfica Editora
Brasileira, 1953/42 a 44.
TRINDADE, Sérgio Luiz Bezerra. Introdução à História do Rio Grande do Norte. Ed. Sebo Vermelho, 2015/123 a 133.
|
Assinar:
Postagens (Atom)