18/05/2021
O império negro de Kush Tomislav R. Femeni
ck - HistoriadorA historiografia tem dado muito pouca atenção a alguns povos. Este é o caso doskuchitas (cuxitas) uma das mais antigas e estruturadas culturas da África Negra. Eleshabitavam a antiga Núbia, região que atualmente é o sul do Egito e o norte do Sudão,situada ao longo do rio Nilo. Suas terras incluíam, ainda, áreas desérticas a leste e a oestedo vale do Nilo, até as cercanias do mar Vermelho e do deserto da Líbia. Embora algunspesquisadores tentem atribuir ascendências mediterrânica, amarela ou mista aos kuchitas, aNúbia era, e é, uma terra povoada por negros. Suas relações com o Antigo Egito retroagem a épocas situadas entre 5000 e 3000a.C., de tal forma intensas e permanentes durante toda a sua existência, que “a história daNúbia é quase inseparável da do Egito” (SHERIF). Durante a primeira dinastia, osegípcios se impuseram no norte da Núbia, com o intuito de controlar o tráfico de algumasmercadorias. O resultado natural foi que os kuchitas absorveram muitos dos costumesegípcios, inclusive a religião e a construção de pirâmides, embora não tão grandiosas. O primeiro reino Kuch teve por sede a cidade de Kerma (Querma), que já existia porvolta de 2400 a.C. Ali eram vendidas as mercadorias do norte e do sul do rio Nilo:produtos manufaturados no Egito, bem como mercadorias naturais da Núbia.Durante o Segundo Período Intermediário, o período de decadência do poder dosFaraós, houve o ressurgimento do reino Kuch. Tão logo o Egito se recuperoupoliticamente, voltou-se contra os kuchitas, impondo-lhes uma derrota militar, obrigandoos vencidos a pagar tributos. Em apenas três anos a Núbia enviou ao Egito cerca de 750quilos de ouro. “Por outro lado, certos elementos culturais núbios seguiram também arota das caravanas, e numerosos deuses e deusas do sul passaram a integrar o panteonegípcio, como o deus carneiro Jnun”(KI-ZERBO). O processo de fortalecimento do reino de Napata tinha como base uma organizaçãoadministrativa que sofria grande influência egípcia, mas tinha as suas tipicidades. Porexemplo, o rei era um autocrata absoluto e, ao contrário dos Faraós, não dividia oudelegava poderes para nenhum membro do estamento governamental ou religioso. Osvizires e sacerdotes eram meros subalternos do rei. Outra base do crescimento foi aeconomia, centrada na exploração agrícola, pecuária e na mineração, para o que contavamas técnicas de trabalhos metalúrgicos e de comercialização de produtos, com um fortecontingente de artesãos e uma população relativamente urbanizada. Em 767 a.C., um dosseus reis derrotou os egípcios, assumiu o governo do país, instituiu a XXV dinastia egípcia,fato que fez com que cinco núbios ocupassem o posto de Faraó do Egito. Note-se que,embora tenha havido uma grande troca de culturas e costumes, nunca houve uma uniãototal desses dois povos nem dos dois governos. Mesmo durante o período de domínionúbio no Egito, continuaram com identidades paralelas, apesar das tentativas de uniãopolítica. A dominação núbia sobre o Egito perdurou até cerca de 655 a.C., quando os
assírios ocuparam o baixo Egito, subiram o rio Nilo, chegando até Tebas, onde realizaramum grande saque. As lutas dos assírios contra a XXV dinastia foram intensas e cruéis. OFaraó Núbio “retirou-se para Kuch, onde sobrevivia o reino egiptizado” (OLIVER eFAGE). No final do século IV a.C., a capital do reino de Napata foi transferida paraMéroe, onde permaneceu até o seu declínio, ocorrido no século I d.C. Os reinos kuchitas, em todas as suas fases, foram exportadores de escravos para oEgito, para a Mesopotâmia e para a Ásia, via mar Vermelho. Para a queda dos kuchitascontribuíram as derrotas que lhes foram impostas pelos Faraós da dinastia ptolomaica,pelos romanos e finalmente, em 320 d.C., pelo reino Aksum (ou Axum), formado poremigrantes árabes. Uma das últimas referências históricas sobre o governo de Méroe datade 652, quando foi assinado em acordo comercial entre o governo islâmico do Egito e osnúbios remanescentes do antigo reino Napata, pelo qual estes forneceriam 360 escravospor ano.PS – Maiores informações sobre o reino Kush estão em meu livro “Os Escravos, daEscravidão Antiga à Escravidão Moderna”.Tribuna do Norte. Natal, 15 maio 2021
Os bordados e as rendas do Seridó potiguar
Padre João Medeiros Filho
Trata-se de uma tradição cultural, socioeconômica e artesanal da região seridoense, cuja origem provavelmente data do final do século XVI. Urge, por conseguinte, uma maior proteção desse patrimônio secular. Em que pesem outras informações, estamos diante de um legado, oriundo do Condado de Flandres. Este durou nove séculos (866-1795), tendo sido integrado aos Países Baixos (Nederland) em 1512. Reunia importantes municípios, compreendendo parte das atuais províncias de Altos da França, Flandres Ocidental e Hainaut. Floresceu com o setor têxtil (incluindo costura, bordados e rendas), dominando o comércio internacional do ramo. Sua capital administrativa era Lille (norte da França), porém Bruges (noroeste da Bélgica) tinha grande expressão artística e mercantil.
Desse encontro de culturas resultaram vários étimos, ainda hoje empregados nos produtos aqui manufaturados. É comum entre nós o emprego de palavras francesas (ou aportuguesadas), provenientes daquele condado, tais como: renaissance, richelieu, crochet, macramê, tricot, guipure, luneville, point perlé etc. Alguns tecidos guardam a nomenclatura primitiva: tricoline, laise, crepe, cambraia (da cidade de Cambrai). Plissé e godet são termos que continuam em uso na costura. Bélgica e Itália disputam o berço da renda de bilros, difundida em Portugal e suas colônias. Produzida em menor escala no Seridó, encontra-se mais na região litorânea do Nordeste. É bom lembrar o que consta na Sagrada Escritura: “O Senhor dotou-os [as] de habilidades para executar qualquer tipo de pintura, escultura e bordados.” (Ex 35, 35).
É inegável o valor artístico das rendas e bordados portugueses, especialmente os oriundos da Ilha da Madeira. Poderiam ter influenciado as artesãs norte-rio-grandenses. Entretanto, os do Seridó aproximam-se mais das renomadas “dentelles de Bruges”. Por isso, estudiosos e especialistas no assunto têm demonstrado que nossa arte é de origem flamenga. É reconhecida a presença neerlandesa, durante sessenta anos no Nordeste brasileiro, inclusive no Seridó. Os Países Baixos, indexando o Condado de Flandres, mesclaram sua cultura e civilização. E os holandeses, aqui chegando, deixaram sua marca artística.
Um passo importante foi dado, em junho de 2018, com o selo de indicação geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a onze municípios do Seridó potiguar. O SEBRAE vem orientando as artesãs e suas cooperativas no atendimento às normas do INPI. Entretanto, há necessidade de pesquisas e conclusões teórico-técnicas para não se perder a originalidade e qualidade dos produtos. Na década de 1980, o Padre Pedro Neefs, pároco de Campo Grande, organizou um grupo de bordadeiras na Serra de João do Vale, vinculado à Associação comunitária dos trabalhadores avulsos e artesãos de Augusto Severo (ACTAS). Seu objetivo precípuo era manter a tradição cultural e garantir a sua originalidade, e não simplesmente colocar a produção no mercado.
As instituições de ensino superior do Seridó (públicas e particulares) necessitam dar a devida importância ao assunto. Ali, há vários tipos de graduação, mas inexistem cursos voltados para as especificidades culturais e artísticas da região. Os governos e as igrejas poderiam promover estudos para assegurar a fidelidade à tradição dos bordados e rendas. Cabe destacar o valioso contributo do primeiro bispo de Caicó, Dom José de Medeiros Delgado, fundando na sede diocesana a Escola Pré-vocacional – precursora do ensino profissionalizante – que se propunha a ensinar essa arte às jovens. Deve-se igualmente ao aludido prelado a criação, em 1943, da Escola Doméstica Popular Darcy Vargas (extinta em 1972), dedicada também à temática.
Outros estados brasileiros defendem criteriosamente suas tradições e história. Os gaúchos incentivam o conhecimento técnico-científico e acadêmico do vinho, churrasco e chimarrão. Os mineiros protegem seus queijos e cachaças com pesquisas e abordagens científicas. Deve-se evitar a apropriação indevida de nosso patrimônio. Seria uma ameaça à nossa identidade histórico-cultural. Há premência de um referencial teórico da herança flamenga legada à nossa gente. É preciso garantir que os produtos estejam de acordo com a sua proveniência. Ressente-se, ainda hoje, da falta de estudos mais completos como suporte de fidelidade e qualidade de nossa produção. O apóstolo Paulo já dizia: “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e conservai cuidadosamente as tradições que vos foram ensinadas.” (2 Ts 2, 15).
09/05/2021
O desfazimento do Brasil
Tomislav R. Femenick – Mestre em economia, com extensão em sociologia e história
Quando eu me entendi como gente, vivia num país bem diferente do que é o Brasil de hoje. Era um país ainda meio bucólico, onde se amava a natureza e se exaltavam as palmeiras e o canto do sabiá. Tínhamos saído da cruel ditadura de Vargas e respirávamos os ares da democracia. Tínhamos um presidente militar, porém respeitador do “livrinho”, a Constituição. Nas artes tinha baluartes como Portinari, Panceti, Villa-Lobos, Eleazar de Carvalho, Pixinguinha, Carmem Miranda e muitos, muitos outros. Problemas? Existiam, mas... onde não os há?
O fato era que nos orgulhávamos de nossa pátria, a nossa “pátria amada Brasil”. Nas escolas, formávamos filas na frente das salas de aula e cantávamos trechos do Hino Nacional e, como era o meu caso, do hino do Colégio, quando havia. Aí descobri que o Brasil era o país do futuro, como previsto por Stefan Zweig, um judeu nascido na Áustria. Como era bom ser brasileiro e dispor de um futuro promissor.
Mas... esse futuro foi solapado por um bando de brasileiros inescrupulosos. Jânio Quatros renunciou à presidência da República em pleno delírio etílico. Jango Goulart assumiu a presidência e começou a flertar com ideias esquerdistas e foi defenestrado do trono. Os militares tomaram o poder para ajeitar tudo em pouco tempo, ficaram mais de vinte anos comandando a tropa. Depois vieram Sarney, o senhor inflação; Collor, cassado por improbidade; Fernando Henrique, o criador da reeleição; Lula, o operário que fez amizade com os grandes empreiteiros e se locupletou; Dilma, a gerentona que não soube gerir e deu algumas pedaladas, e chegamos a Bolsonaro (Itamar e Temer foram só acidentes de percurso).
Apesar de alguns tropeços aqui e ali, as instituições que edificam o estado democrático de direito ficaram intactas (exceção houve no governo militar), com alguns arranhões, uns superficiais e outros mais profundos, mas que não comprometiam seus fundamentos: respeito às normas legais, aos direitos fundamentais, e proteção da dignidade da pessoa humana.
Eis que de repente, sem aviso prévio, as câmaras de TV chegaram ao STF, e os ministros passaram a atuar como astros e estrelas de uma novela maluca, onde impera o nonsense. Ministros discutem entre si, usando linguajar compatível com uma pelada de várzea; emitem opinião antes do tempo, sobre inquérito em andamento; mudam votos já emitidos, no mesmo processo; alteram entendimentos já estabelecidos, sobre o texto constitucional. Parece que vivem em outro mundo que não o nosso. Exemplo disso são seus companheiros do STJ, que preveem gastar a bagatela de R$ 42.750,00, para compra de togas, becas, capas e outras vestimentas. Isso tudo quando, no trimestre de dezembro a fevereiro último, a taxa de desemprego atingiu 14,4 milhões de pessoas e outros seis milhões, em desalento, nem mais procuram emprego.
No Congresso nacional, cobertos pelo manto da vaidade, deputados e senadores lutam por visibilidade na CPI da pandemia, digladiam-se para ocupar cargos em que depois possam negociar com o Executivo. Não bastasse isso, aprovaram um Orçamento para 2021 que é uma peça de ficção, jogaram para baixo do tapete um montão de despesas correntes obrigatórias, somente para alargar as chamadas “verbas parlamentares”. Em um ano que já registra mais de 400 mil mortes pelo coronavírus, cortaram até verbas para o SUS, a porta de socorro dos mais pobres.
Por sua vez, o Executivo faz jogo de cena. Ora desconhece a pandemia (que já provocou mais de 400 mil mortes), atacando o distanciamento social, o uso das máscaras e os governos estaduais e municipais, a compra de vacinas e os países que nos podem fornecê-las, ora diz que ela – a pandemia – existe, mas é algo passageiro.
Não bastasse isso tudo, o governo Bolsonaro rifou os seus melhores quadros. Quantos ministros já foram mandados embora ou pediram demissão? Basta citar Mandetta, Santos Cruz e Moro. Só falta o Posto Ipiranga que, no entanto, é submetido a uma dieta de sapos empanados, dia sim e outro também.
Tribuna do Norte. Natal, 05 maio 2021.
01/05/2021
Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-25
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Continuo firme, morando em Cotovelo, onde tenho a segurança contra doenças, recebo a vitamina D em estado natural, respiro o ar puro do mar, caminho dentro das possibilidades das minhas pernas combalidas e tenho a facilidade de todos os meios de comunicação ao meu dispor, inclusive ouvindo palestras, participando de lives, assistindo missas, ouvindo considerações de bons intérpretes da religião e tenho contado permanente com a minha família e amigos.
A internet permite que eu administre meus pagamentos e minhas transferências de maneira simples, deixando-me tempo para continuar a escreve meus livros e artigos, preenchendo a minha vida, que ficou muito vazia com a partida da minha sempre lembrada THEREZINHA.
Hoje, venho lembrar duas grandes datas, aqui desenvolvidas separadamente:
1º de Maio – Dia do Trabalho
Por que 1º de maio é considerado o Dia do Trabalho ou do trabalhador?
Aproveito texto publicado pela Calendarr disponibilizado na internet:
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Dia do Trabalho
O Dia do Trabalho ou Dia do Trabalhador é comemorado anualmente em 1º de maio em diversos países do mundo.
O Dia do Trabalho é feriado nacional no Brasil, em Portugal, Rússia, França, Espanha, Argentina, entre outras nações.
Esta data representa o momento que os empregados e as empresas têm para refletir sobre as legislações trabalhistas, normas e demais regras de trabalho.
Nesta data também é homenageada a luta dos trabalhadores que reivindicaram por melhores condições trabalhistas. Graças à coragem e persistência desses trabalhadores, os direitos e benefícios atuais dos quais usufruímos foram conquistados.
Origem do Dia do Trabalho
Até meados do século XIX, os trabalhadores jamais pensaram em exigir seus direitos trabalhistas para seus patrões, apenas trabalhavam.
Mas, a partir de 1886, aconteceu uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago, para reivindicar a redução da jornada de trabalho (de 13 horas para 8 horas diárias), e em 1º de maio desse ano milhares de pessoas foram às ruas iniciando uma greve geral nos Estados Unidos.
Os conflitos estadunidenses ficaram conhecidos como Revolta de Haymarket.
Três anos após as manifestações nos Estados Unidos (20 de junho de 1889, precisamente), foi convocada em Paris uma manifestação anual para reivindicação das horas de trabalho e foi programada para o dia 1º de Maio, como homenagem as lutas sindicais em Chicago.
No dia 23 de abril de 1919, o Senado francês ratificou as 8 horas de trabalho e proclamou o dia 1º de maio como feriado. Após alguns anos, outros países também seguiram o exemplo da França e decretaram o dia 1º de maio como feriado nacional dedicado aos trabalhadores.
Dia do Trabalho no Brasil
No Brasil, o Dia do Trabalhador só foi reconhecido em 26 de setembro de 1924 através do decreto nº 4.859 assinado pelo então presidente Artur da Silva Bernardes.
A criação da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) foi instituída através do Decreto-Lei nº 5.452, em 1º de Maio de 1943, na gestão de Getúlio Vargas. Durante o governo Vargas realizavam-se grandes manifestações que incluíam música, desfiles e normalmente o anúncio de alguma nova lei trabalhista. Até hoje, alguns governos seguem a tradição e comunicam o aumento do salário mínimo nesta data.
O dia do trabalho é comemorado com manifestações convocadas pelas principais centrais sindicais do Brasil para revindicar melhores condições de trabalho.
Dia do Trabalho nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos e Canadá, o Dia do Trabalho é conhecido como Labour Day e é celebrado na primeira segunda-feira do mês de setembro.
URSS e Países Socialistas
Na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e em países de orientação socialista, o 1º de Maio era a festa mais celebrada do calendário civil. Realizavam-se desfiles e feiras industriais onde o trabalhador era o protagonista.
Mensagem para o Dia do Trabalhador
Abençoadas são as mãos dos trabalhadores, responsáveis por fazer o motor da nossa nação em constante funcionamento! Feliz Dia do Trabalho!
Como já diz o conhecido ditado: "o trabalho dignifica o homem!" Feliz Dia do Trabalhador!
Não importa se é médico, advogado, empresário, faxineira ou porteiro... Todos os trabalhos são dignos e os trabalhadores devem ser respeitados e reconhecidos pelos serviços que prestam ao bem da comunidade! Feliz Dia do Trabalho!
1º de Maio - Dia da Literatura
Em 1º de maio, comemora-se o Dia da Literatura Brasileira, data em que nasceu o escritor José de Alencar, considerado um dos mais importantes autores brasileiros. Um dia específico para homenagear a diversidade de autores e obras produzidas no país é um reconhecimento a um elemento cultural fundamental para a construção identitária de uma nação.
O que se comemora no Dia da Literatura Brasileira?
Comemora-se o Dia da Literatura Brasileira em 1º de maio, pois nessa data, em 1829, nasceu o escritor José de Alencar, autor de inúmeras obras que se tornaram clássicas da literatura nacional, como O guarani (1857), Lucíola (1862) e Senhora (1875).
A escolha do dia de nascimento desse escritor para comemorar a importância de toda literatura brasileira deu-se em razão, sobretudo, do empenho de José de Alencar em prol da construção de um conjunto de obras genuinamente brasileiras, com enredos centrados em temáticas nacionais e formuladas em uma linguagem mais próxima possível do português falado no Brasil. Esse projeto nacionalista, que era a bandeira principal do romantismo, teve, portanto, José de Alencar como seu principal representante.
José de Alencar, com sua obra constituída sobre temáticas brasileiras, como a representação de enredos passados no meio rural, no meio urbano, em contexto cultural indígena, abriu espaço para que se consolidasse no Brasil uma produção literária cada vez mais distanciada da portuguesa. Para conhecer mais acerca da vida e obra do autor homenageado no Dia da Literatura Brasileira, leia: José de Alencar.
Movimentos literários do Brasil
A história da literatura divide-se em fases temporais, cada uma com características estéticas, formais e ideológicas específicas, representando, no plano literário e artístico, o pensamento vigente da época de sua ocorrência. No Brasil, essas fases, ou movimentos literários, dividem-se em:
· Quinhentismo: vigente no século XVI, correspondeu à fase inicial da literatura brasileira, caracterizada pela ocorrência de relatos de informação e textos de catequese. O padre José de Anchieta foi o principal autor desse período.
· Barroco: vigente no século XVII, esse movimento refletiu os conflitos espirituais do homem, por isso o uso recorrente de antítese nas obras desse período. Destacaram-se os autores Padre Antonio Vieira e Gregório de Matos.
· Arcadismo: vigente no século XVIII, esse movimento teve como marcada a busca pela racionalidade e pelo equilíbrio do classicismo. Destacaram-se os autores Tomas Antonio Gonzaga, Basílio da Gama e Cláudio Manoel da Costa.
· Romantismo: vigente no século XIX, que destacava o romance. Os autores mais relevantes do período foram Castro Alves, José de Alencar, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo.
· Realismo: vigente no fim do século XIX, esse movimento buscava reproduzir os conflitos humanos e sociais da forma mais real possível. Destaque para Machado de Assis, Aluísio de Azevedo e Raul Pompéia.
· Naturalismo: concomitante à ocorrência do realismo, também primava pela objetividade, mas associada a um tom cientificista e ao determinismo social. Destacaram-se Aluísio de Azevedo e Raul Pompéia.
· Simbolismo: vigente no fim do século XIX, esse movimento opôs-se ao realismo/naturalismo, privilegiando, portanto, um tom místico. Seu principal representante foi o poeta Cruz e Souza.
· Parnasianismo: vigente no início do século XX, esse movimento caracterizou-se pela valorização de formas rígidas no poema e utilização de temáticas clássicas. Os principais autores foram Olavo Bilac e Raimundo Correa.
· Pré-modernismo e modernismo: movimentos que aconteceram de 1902 a 1930. Os autores mais influentes foram Euclides da Cunha, Augusto dos Anjos e Monteiro Lobato (pré-modernismo); Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo e Mario de Andrade (modernismo).
Dia da Literatura Brasileira | 1 de maio - Calendarr
Cinco grandes autores da literatura brasileira
1. Machado de Assis
Nascido em 21 de junho de 1834, na cidade do Rio de Janeiro, e falecido em 1908, na mesma cidade, foi o principal autor do movimento realista brasileiro. Suas principais obras são Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1899).
2. Graciliano Ramos
Nascido no interior de Alagoas, em 27 de outubro de 1892, e falecido em 1953, no Rio de Janeiro, foi um dos principais autores do chamado romance regionalista. Suas principais obras são São Bernardo (1934) e Vidas Secas (1938).
3. Guimarães Rosa
Nascido em Cordisburgo, interior de Minas Gerais, em 27 de junho de 1908, e falecido em 19 de novembro de 1967, no Rio de Janeiro, foi um dos mais importantes contistas e romancistas modernista. Sua principal obra é Grande sertão: veredas (1956).
4. Carlos Drummond de Andrade
Nascido em 31 de outubro de 1902, na cidade de Itabira, Minas Gerais, e falecido em 1987, no Rio de Janeiro, é considerado o maior poeta brasileiro. Entre inúmeros livros de poesia e crônica, destacam-se as obras poéticas Sentimento do mundo (1940), A rosa do povo (1945), e Amar se aprende amando (1985).
5. Clarice Lispector
Nascida na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920, e falecida em 9 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, é considerada a mais importante voz feminina na literatura brasileira. Destacam-se, no conjunto de sua produção literária, os seguintes livros: A paixão segundo GH (1964), Felicidade Clandestina (1971), A hora da estrela (1977).
Veja também: 23 de abril – Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral
Cinco obras que você precisa conhecer da literatura brasileira
1. Noite na taverna
Publicada em 1855, essa narrativa de Álvares de Azevedo (1831-1852), principal escritor da segunda geração do romantismo brasileiro, estrutura-se de modo a assemelhar-se a um livro de contos ou a uma novela, podendo ter suas partes lidas separadamente, apesar de ter um fio narrativo que as liga.
O enredo gira em torno dos jovens boêmios Solfieri, Johann, Gennaro, Bertran, Hermann e Arnold, os quais, em uma taverna, contam histórias macabras que viveram um para o outro.
2. Dom Casmurro
Publicado em 1899, esse romance, de Machado de Assis (1834-1908), é considerado um dos mais enigmáticos da história da literatura brasileira. Acometido por dúvidas e incertezas quanto à fidelidade de sua finada esposa (Capitu), o narrador-personagem Bento Santiago (Bentinho) conduz o leitor a seu passado, o qual tenta, por meio da narrativa, reconstituir a fim de “atar as duas pontas da vida”.
Capitu traiu ou não Bentinho? Isso fica em aberto na obra, porém é justamente a construção narrativa ambígua, que se abre ora a uma ora a outra possibilidade, que faz desse clássico da literatura uma verdadeira obra-prima.
3. São Bernardo
Publicado em 1934, esse romance, de Graciliano Ramos (1892-1953), é narrado por Paulo Honório, órfão pobre de pai e mãe que consegue, por meio de negociações vantajosas e questionáveis, adquirir a fazenda São Bernardo no interior alagoano.
Após reestruturar a propriedade e tornar-se um fazendeiro influente, casa-se com a jovem professora Madalena, com quem tem embates e brigas por pensarem diferente: enquanto Paulo Honório mostra-se como um típico capitalista interessado unicamente em prosperar economicamente, sua esposa mostra-se solidária em relação aos explorados trabalhadores da fazenda. Após Madalena sucumbir a esse embate, Paulo Honório, já velho, procura reconstituir, com remorso e arrependimento, sua história, na tentativa de passá-la a limpo.
4. As horas nuas
Publicado em 1989, esse romance, da escritora Lygia Fagundes Telles (1923), inova em muitos aspectos, principalmente em relação ao foco narrativo. Rosa Ambrósio, atriz decadente, expressa um monólogo interior em que expõe suas angústias psicológicas ao retomar seu passado e analisar seu presente.
Coexistindo com essa narradora inicial, chama a atenção a presença de um pitoresco narrador, o gato de Rosa, chamado Rahul, o qual, com muita ironia, tece comentários acerca do que vê ou já viu no núcleo familiar da trama. Há ainda um terceiro narrador, dessa vez onisciente, que se centra na personagem Ananta, analista de Rosa Ambrósio. Além da multiplicidade do foco narrativo, merecem destaque o modo fragmentado com que o tempo e o espaço são apresentados.
5. Lavoura arcaica
Publicado em 1975, esse romance, de Raduan Nassar (1935), adaptado às telas de cinema em 2001 pelo diretor Luiz Fernando de Carvalho, é narrado em primeira pessoa por André, um jovem da zona rural que deixa sua família, centrada na figura autoritária de seu pai, de descendência árabe, para morar só em uma cidade do interior.
Mais do que o enredo, centrado nas inquietações subjetivas de um jovem oprimido pela figura paterna, destaca-se nessa obra o trabalho com a linguagem, que é elevada a um nível poético, já que o autor prioriza uma construção sintática muito concisa e rica em significado. Além disso, a intertextualidade com o texto bíblico e com elementos da tradição árabe é fator que enriquece essa obra de Raduan Nassar.
Crédito da imagem
[1] Nido Huebl / Shutterstock
Publicado por: Leandro Guimarães
19/04/2021
CALVÁRIO DAS LETRAS
Valério Mesquita
Mesquita.valerio@gmail.com
“Help! De tanto esperar já nem sei mais pedir socorro em português”. Assim falou conhecido intelectual da paróquia que habitamos. Viu ao derredor tudo abandonado, sucateado. Um amigo pedira um catálogo do patrimônio cultural da cidade para um grupo catarinense que visitava Natal. Em João Pessoa, Recife e Fortaleza a agenda dos turistas fora inteiramente cumprida. A expectativa era de que na cidade dos Reis Magos não seria diferente. Alguém do Rio Grande do Norte, numa das capitais antes visitadas, fornecera algumas informações sobre os pontos culturais a serem visitados. Deve ter sido um guia turístico desinformado da realidade em que se encontram os bens culturais móveis e imóveis do Estado.
Apesar dos esforços dos órgãos de promoção cultural no enfrentamento dos problemas, não existem: dinheiro nem vontade política superior. Como explicar a sociedade e aos turistas por que o teatro Alberto Maranhão ainda está interditado? O museu Café Filho saqueado e fechado! A biblioteca Câmara Cascudo bloqueada, palco de tantas exposições de artistas locais, além do rico acervo de coleções de obras de autores nacionais e estaduais completamente entregues às baratas? O Palácio Potengi, sede da pinacoteca precisa de uma urgente restauração, pois é cartão de visita dos que chegam à cidade! O prédio centenário do antigo Q.G. da praça André de Albuquerque é outro que carece de cuidados e de uma conservação, tombado também pelo Patrimônio Histórico (Museu Câmara Cascudo). O Instituto Histórico e Geográfico – IHGRN, fundado em 1902, guardião de todos os documentos do Rio Grande do Norte colonial, imperial e republicano empenhou uma dotação de duzentos mil reais, obtida de emendas parlamentares da Assembleia Legislativa mas, teve o documento legal cancelado, o que prejudicou seriamente a digitalização do imenso acervo, após a conclusão da restauração do prédio de 1906, com recursos advindos da mesma fonte. Inimaginável, tal coisa!
A cultura potiguar está a merecer o surgimento de vozes que despertem e unifiquem o pensamento e a ação da classe, além das entidades públicas e privadas, em defesa do patrimônio histórico, artístico, bibliográfico. Aliás, tudo isso pertence com mais legitimidade ao povo do que as instituições. Aguarda-se, igualmente, que os senhores parlamentares tomem consciência e utilizem as suas prerrogativas de representatividade porque a cultura de um povo é o que fica, quando tudo o mais passar. É do conhecimento de todos a crise econômica e financeira que se abateu também no nosso Estado. Mas, as autoridades administrativas que acolhem todos os seguimentos da sociedade, por que não consideram também dignos do diálogo, os responsáveis pelo contexto cultural? Seria a ação dos órgãos culturais uma atividade inútil e marginal? A cultura é uma atividade para sempre mendicante?
30/03/2021
TEMPESTADE
Chove
e mais do que nunca é preciso
saber dos amigos
sobretudo quando as cataratas se abrem
e se transformam
em chuvas torrenciais
e os potiguaras atônitos exclamam
Tupã!
A taxa de ocupação em nossos corações
chega ao máximo
e neles já não cabem tantas lembranças
As recordações
faróis da vida submersa
saltam em vão nas barreiras do tempo cinza
que se põem cada vez mais altas
e já não há mais lugar para a sesta
ou para o alívio
pois os deuses da chuva decidem abrir as torneiras
e decretam lockdown em nossos corações
assim na terra como no céu
- Horácio Paiva
29/03/2021
Marcelo Alves
Palavras do doutor
Samuel Johnson (1709-1784), dito Doutor Johnson, foi um daqueles excêntricos gênios ingleses. Nascido na pequenina Lichfield, no oeste da Ilha, estudou na Universidade de Oxford. Mas faltou dinheiro e ele foi morar em Londres. Ganhar a vida. No jornalismo e, depois, tratando sobre quase tudo. Escreveu poesia. Ensaios variados. Muita crítica literária. Foi biógrafo de muita gente boa. A sua “Lives of the Most Eminent English Poets”, de 1781, não me deixa mentir. Foi lexicógrafo (vide seu famoso “Dictionary”) e editor sem par na história do seu país. Corpanzudo, rechonchudo mesmo (segundo os retratos que temos dele), cheio de tiques e manias, Samuel Johnson é por muitos celebrado como “o homem de letras mais distinto da história da Inglaterra”. Já idoso e debilitado, ele faleceu na adorada capital do Reino Unido.
De toda sorte, acho que o legado do Doutor Johnson reside hoje sobretudo em duas grandes obras. Uma é o seu “A Dictionary of the English Language”, também chamado de “Johnson’s Dictionary”, inicialmente publicado em 1755. Dizem que ele levou sete anos para escrevê-lo, praticamente sozinho. Foi revisado e reeditado várias vezes pelo autor em vida. Até a publicação do “Oxford English Dictionary”, mais de uma centena de anos depois, foi o dicionário de referência para a língua inglesa. O “Johnson’s Dictionary” é frequentemente tido como um dos mais importantes empreendimentos da cultura universal, talvez até o maior já realizado por uma só pessoa nas condições de então.
Curiosamente, a segunda obra à qual devemos a badalação do Doutor Johnson não foi escrita por ele, mas, sim, por seu amigo e biógrafo James Boswell (1740-1795). Trata-se de “The Life of Samuel Johnson”, um texto enorme, que possuo numa bela edição da Everyman’s Library, de 1992. Dela consta: “A mais celebrada biografia em inglês é um grupo de retratos na qual um homem extraordinário desenha as figuras de uma dúzia mais. No centro desse brilhante círculo, o qual inclui Burke, Reynolds, Garrick, Fanny Burney e mesmo George III, Boswell foca a poderosa, problemática e original figura de Samuel Johnson, que pontifica acima de todas as outras. Embora esta seja também um retrato íntimo da vida doméstica, que mistura os maiores conversadores de uma era dourada da conversa com os amigos mais simples do nosso herói na maior e mais tocante de todas as biografias”.
Noutros tempos, morando em Londres, paguei meu tributo ao enorme Doutor Johnson. Recordo-me de haver ido algumas vezes à Dr Johnson’s House, casa-museu que fica no número 17 da Gough Square, na City londrina. Bem pertinho da biblioteca do King’s College London – KCL, onde estudava quase todos os dias. Consta que, morando de 1748 a 1759, Samuel Johnson teria ali terminado o seu Dicionário. Sítio belo e histórico. Vale a pena visitar.
Era – e sou cada vez mais – fã de Samuel Johnson. Sobretudo de suas frases. O Doutor, à moda de muitos sábios, era um grande frasista. Uma delas, em especial, bastante adequada para o Brasil de hoje, muito me tocou: “O patriotismo é o último refúgio do canalha”. E olhem que o homem era um reconhecido conservador. Matutava sempre sobre essa sentença quando ia tomar umas pints no Ye Olde Cheshire Cheese, antiquíssimo pub da região (sito na Fleet Street), outrora frequentado por Charles Dickens (1812-1870), Arthur Conan Doyle (1859-1930), G.K. Chesterton (1874-1936) e o próprio Johnson, entre outros gigantes das letras. Eram todos regulars do local. Ao menos espiritualmente estava bem acompanhado.
E ainda matuto. Pois são as palavras do verdadeiro doutor!
Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL
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