(*) Escritor.
07/01/2021
23/12/2020
As origens da festa do Natal
Padre João Medeiros Filho
Segundo historiadores, a celebração do Natal remonta ao ano 440, quando
o Papa São Leão Magno instituiu a missa “In Nativitate Domini”. Não há
registro exato da data do nascimento de Jesus. O dia 25 de dezembro é a
cristianização de algumas festas romanas e gregas. Em Roma, eram tradicionais
as “Saturnaliae” (Saturnais), em homenagem ao deus Saturno. De acordo
com a mitologia, tendo ele sido destronado por Júpiter, fugiu para a Ausônia
(Itália). Ali, reinou durante a idade áurea do Império Romano. Em memória desse
reinado benéfico, celebravam-se no início do inverno as Festas Saturnais.
Pode-se verificar que em tais comemorações havia aspectos análogos à celebração
do Natal cristão. Nas Saturnais, suspendiam-se as atividades e serviços
públicos (hoje recesso natalino), declarações de guerra, execuções de penas
(indulto de Natal) e os amigos trocavam presentes. As árvores eram enfeitadas para
que brilhassem (árvores natalinas). Cantava-se e dançava-se em agradecimento a
Saturno, divindade da fartura e da vida.
Havia paz e fraternidade. O poeta latino Virgílio aludiu a essa época: “Eis
que a Justiça está de volta com o reino de Saturno.” As Saturnais
pretendiam lembrar o estado paradisíaco, obter proteção para os campos e os
habitantes. Além dos festejos citados, na ocasião havia uma grande ceia, em que
todos fraternalmente se colocavam à mesa. A refeição tinha por objetivo mostrar
que todos os seres humanos são iguais e os bens da terra lhes pertencem. As
igrejas cristãs ensinam que Jesus veio instaurar um reino de Amor, Justiça e
Paz. O Filho de Deus se encarnou para proclamar a nossa fraternidade e sentar
todos à mesma mesa (Eucaristia) para um banquete oferecido por Deus. Para os
cristãos Jesus é o maior dom divino para os homens e seguindo o seu exemplo, há
a oferta de presentes. A partir do Édito de Milão, os romanos foram se
reunindo, não mais para celebrar uma deidade frágil, mas o Deus Eterno.
Na mitologia grega, Hélios (o deus Sol) é filho de uma virgem chamada
Téia. Ele, conhecedor das mazelas do mundo, era a divindade da luz, capaz de
trazer vida, curar, queimar e cegar. Consoante a lenda, recebeu de Netuno a
cidade de Corinto, onde era adorado por seus habitantes. Estes propagaram por
toda a Grécia a festa de Hélios. No solstício do inverno – entre 22 e 23 de
dezembro, no hemisfério norte – os coríntios costumavam celebrar a festa do
Sol, quando se cantava e pedia que ele não se afastasse da terra e ali não
dominassem as trevas, encobrindo as cidades. Em geral, tal festividade tinha o
seu ápice no segundo ou terceiro dia, ou seja, em 25 de dezembro.
A Igreja, partindo dessa tradição, começou a celebrar Aquele que é a Luz
do Mundo, “Sol da Justiça e da Paz”, preconizado pelo profeta Isaías (Is
32, 1). Segundo a crença helênica, os rigores do inverno deveriam ser
amenizados com a proteção do Sol (Hélios). E segundo a concepção do
cristianismo, o gelo da insensibilidade, do egoísmo e ódio será eliminado por
Aquele que aquece os nossos corações. “Sol divino, aquecei as nossas
almas”, reza-se na Sequência da Missa de Pentecostes.
Virgílio já proclamava: “Quando o sol se põe, viaja para as entranhas
da noite escura”. Assim, Cristo ausentando-se de nossas vidas e da
sociedade, haverá trevas. Narram os relatos da Paixão do Senhor: “Quando Ele
expirou, a terra cobriu-se de trevas” (Mt 27, 45). O Filho de Deus
apresenta-se a seus contemporâneos como Luz: “Eu sou a Luz do mundo, quem me
segue não anda nas trevas.” (Jo 8, 12). Carl Gustav Jung remete
o simbolismo de Hélios ao próprio Cristo: “O sol nasce cada dia, é imortal,
retrata a força suprema do espírito e da alma, a verdade e o amor.” O
Filho de Deus é imortal e nossa fortaleza, como afirma o apóstolo Paulo: “Tudo
posso Naquele que me fortalece” (Fl 4, 13). Ele assim se
define: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6). Jesus é
inegavelmente a ternura divina, como descreve o evangelista João: “Deus é
Amor” (1Jo 4, 8).
18/12/2020
Tilt & Baboo e um Natal sem trenó
Primeiro livro infantil das lojas Rio Center.
Acompanhe os dois mascotes da loja, Tilt e Baboo, em uma aventura com o Papai Noel, os duendes e as renas para salvar o Natal.
Em versão bilíngue, português e inglês, é mais um resultado do Projeto Ninho, uma proposta da Coruja Arquitetura com o Sertão Comunicação & Mídia.
Em formato de livro impresso, está disponível gratuitamente nas lojas Rio Center, enquanto durar o estoque.
Aqui, a versão digital, também gratuita.
Texto Gustavo Sobral e ilustrações Ariel Guerra.
2020, Tilt & Baboo e um Natal sem trenó. 1ed. Natal: Coruja Arquitetura, 2020, 24p.
www.gustavosobral.com.br
BULA MEDICAMENTOSA
Valério Mesquita*
Jesus
Cristo, o amado mestre, falava através de parábolas. O ser humano comum, quando
muitas vezes quer dizer uma verdade, escreve por linhas tortas. Esse preâmbulo
indefectível vem esbarrar num assunto que desejo abordá-lo via deduções
preterintencionais, comparativamente a uma bula medicamentosa. Repleta de
disse-me-disse. Falo do famigerado coeficiente eleitoral, a mais afiada faca de
dois gumes do processo eleitoral brasileiro. Modelo injusto e antidemocrático,
que eleva ao podium o lanterninha em detrimento do mais votado. O resultado,
muitas vezes, de uma eleição, não reflete a manifestação da maioria, principio
fundamental de qualquer processo decisório.
O
escorre das votações ou proclamação de resultados, em qualquer atividade
institucional ou não, baseia-se na lógica numeral dos sufrágios. Nos plenários
do Legislativo, do Judiciário, dos Tribunais de modo geral, no placar das
competições esportivas, no Vaticano, no sindicato, na OAB, no ABC, no grêmio
escolar, enfim, em qualquer seguimento coletivo a expressão dos mais sufragados
- é a respeitada. Até a lei de Gerson é a da vantagem. Somente o processo
eleitoral brasileiro é liquidificado, diluído, triturado, para inverter e
subverter a escolha popular que deu três mil votos a um candidato mas o que se elege
é aquele dos quinhentos. Acho perverso esse sistema. A maioria dos pequenos
partidos que abunda o elenco eleitoral é useira e vezeira na prática de
registrar candidatos fajutos apenas com o intuito de alimentar a legenda.
O
coeficiente eleitoral, assim, é semelhante a bula medicamentosa. Esta tem
efeitos colaterais pois ofende a todo organismo da eleição. Elege quem não
devia. Retira do eleitor a primazia de escolher o melhor, retirando do túmulo
do processo o opaco e o onomatopaico. Envia para a casa do povo o que não deve
ir – o lôgro. Verifique o resultado das urnas, à luz mortiça das reações
adversas que o coeficiente eleitoral tem provocado nos legislativos de modo
geral só para atender ao cálculo equivocado que premia o caricato partido
político e derruba o valor pessoal, humano, valorativo e majoritário do
candidato. Ainda dentro da posologia sobre o assunto as minhas precauções
residem no fato de entender que o homem deve ficar acima da agremiação. A
proliferação das legendas têm trazido mais problemas para a democracia do que o
político solitário. Afinal, o mensalão, o lava jato e outros escândalos foram
obras da proliferação de partidos nanicos.
A
superdosagem de corticóide no coeficiente eleitoral mascara o exercício da
democracia. Além de alarmante, a sua aplicação penaliza, deturpa a face das
urnas, a liquidez da escolha, a lisura da lei. Vamos construir um Brasil
eleitor. Respeitando o direito da maioria do povo e não o artifício matemático,
algébrico, trigonométrico do computador eleitoral. O voto é algo numeral e
ordinal. Sentar na cadeira do eleito o menos votado é invenção escabrosa. É
gambiarra, “morcego” e tapeação. Voto é maioria e não medicamento controlado e
manipulado. Tarja preta para o coeficiente eleitoral! Aceito tudo o que for
eletrônico numa eleição menos o coeficiente digitalizado porque nega o direito
da maioria
(*) Escritor.
10/12/2020
O encanto dos pássaros
Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN
Há dezenas de anos, frequento um local onde se sobressai a natureza, tanto com os vegetais ali presentes quanto com os pequenos animais que se movem livres nos espaços. A grama, a relva, as pequenas plantas são repouso para os olhos no verde que se espraia. Plantas de jardim também são cuidadas, algumas com floradas alegres e coloridas. Três palmeiras se elevam tão lindas, tamanho médio, e exigem pouco para se manterem sempre airosas esorridentes. Em área contígua, existe um pomar com diversas árvores frutíferas, tais como pés de acerola, manga rosa e espada, pitanga, coco e jaca. As polpas das frutas não chegam pra quem quer. Vizinho à jaqueira, a mais alta e a mais robusta das espécimes do pomar, floresce um bonito Pau-brasil, a árvore nacional do país, que deu o nome à nossa Pátria. Chamo-o de Rei, e a jaqueira, de Rainha, alcunhas merecidas, pela altivez com que se destacam. Os pássaros que povoam esse espaço onde o verde domina dão um show à parte com seus cantos belíssimos, sinfonia natural, tocada por orquestra que dispensa regentes. Sei que há um regente invisível, diáfano, tão oculto e, ao mesmo tempo, tão presente, capaz de revelar a beleza na forma mais pura da criação. De todos os cantos dos pássaros desse viveiro a céu aberto, ressalto o dos sabiás, pelo timbre suave que encanta e enleva. O sabiá é citado como o pássaro que canta o amor e a primavera. O poema Canção do Exílio, do poeta Gonçalves Dias (1823-1864), é famoso pelo apreço à natureza e aos sabiás: “Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o sabiá”. Desde 2002, o sabiá laranjeira passou a ser, por ato presidencial, a ave nacional do Brasil.Mas, além do sabiá, existemos lindos bem-te-vis, as rolinhas, os beija-flores, os sanhaços, e muitos outros. Há poucos dias, noto que essa alegre e bela cena sonora e visual dos seres alados desse aviário sem barreiras tornou-se meio silente, com menos cursos de voos, enfim, uma calmaria fora do comum. Passei a torcer para que uma construção vizinha logo chegasse ao fim, pois fiquei certo de que o ruído e a poeira eram a causa dessa reação desagradável para os atores do espetáculo da natureza, bem como para os espectadores. Em dias recentes, li uma crônica da neurocientista brasileira Suzana Herculano –Houzel, na qual ela aponta que o canto dos pássaros melhora com o menor barulho urbano. Ela se referiu a uma pesquisa da U. do Tennessee que comparou o canto dos pássaros em pleno ruído da cidade de São Francisco, CA, com o tempo do lockdown –abril a junho de 2020 –, e verificou que os gorjeios das aves se tornaram bem mais cheios de conteúdo e mais completos, durante a fase de menor barulho. A conclusão da pesquisa foi que, no auge da pandemia, os pássaros urbanos voltaram a cantar com o mesmo esmero dos seus primos da área rural. Bela e sábia natureza.Texto publicado na Tribuna do Norte em 10/12/2020.
08/12/2020
- A festa da Imaculada ConceiçãoPadre João Medeiros FilhoNo dia 08 de dezembro de 1854, na Basílica de São Pedro (Roma), o bem-aventurado Papa Pio IX proclamou, pela Bula “Ineffabilis Deus”, o dogma daImaculada Conceição da Virgem Maria. Esta é venerada pelos católicos como o templosanto e ilibado, no qual Cristo veio habitar. Ao celebrar a festa da Imaculada Conceição,a Igreja faz-nos refletir sobre nossa origem e destino. Exemplar da humanidade isentade pecado, Maria recorda-nos como seria o ser humano se não tivesse havido a rebeldiacontra Deus. Este quis nos mostrar a criatura perfeita e oferecer-nos um modelo de vida.É o sentido da festividade, que recorda a doutrina, segundo a qual somos chamados aacreditar que a Virgem Santíssima, desde o primeiro instante até o último átimo de suaexistência terrena, nunca foi corrompida pela maldade dos homens. A ImaculadaConceição da Virgem Mãe é fruto da plenitude da graça divina.A devoção à Imaculada brotou cedo no solo fecundo da piedade popular. OOfício de Nossa Senhora (escrito pelo frade franciscano Bernardino de Bustis, no séculoXV) é uma demonstração do culto mariano e do amor dos fiéis Àquela que é Mãe detodos, oferta de Cristo no alto da Cruz. “Eis a tua Mãe” (Jo 19, 27), dissera Jesus aoapóstolo João. Antes mesmo de ser proclamado pela Igreja, o dogma já era vivido ecelebrado na fé dos católicos, na sensibilidade dos corações que desconhecem reflexõesteológicas, mas percebem a ação amorosa do Senhor.Maria é a expressão da benevolência de Deus. Na plenitude da graça em NossaSenhora, temos a certeza de que o Pai não nos abandonou à própria sorte. Ela é aafirmação de que o Onipotente não se arrependeu de ter criado o ser humano. O Anjo,quando anunciou à Virgem que seria a Mãe do Salvador, disse-lhe: “Alegra-te, cheia degraça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28). Isto significa que Ela estava toda envolta pelavida sobrenatural. Entregando-se totalmente ao Todo-Poderoso, foi tomada pelomistério do amor divino. Essa plenitude em Maria representa a sua isenção de pecado.“Cheia de Graça”, toda pura, foi esta a Mulher que o Pai Celestial escolheu para ser osacrário corporal e terreno de seu Filho Unigênito. E Ele não iria unir a Segunda Pessoada Trindade – de forma infinita e perene, no mistério da Encarnação – com o pecado.Começou a surgir, deste modo, a reflexão teológica da Conceição Imaculada de Maria.Segundo o teólogo e cardeal dominicano Yves Congar, “Nossa Senhora é areconciliação de Deus com o ser humano. Sem desmerecer, no entanto, o papel deJesus Cristo como Redentor, na pessoa da Virgem de Nazaré, Deus fez as pazes com ohomem”. Nela foi retomada e recriada a humanidade plasmada com tanto carinho naorigem do universo. Por esta razão, o apóstolo Paulo e a teologia subsequente chamamNossa Senhora de “Nova Eva”, isto é, a nova Mulher, portadora da Vida. Pela Mãe doRedentor, o Verbo se tornou carne como nós. Por isso, a celebração da Festa daImaculada Conceição acontece no tempo do Advento, perto do Natal, quandocomemoramos o mistério da encarnação e do nascimento do Filho de Deus. A VirgemSantíssima foi a pessoa escolhida para possibilitar ao Salvador assumir a condiçãohumana, sendo a portadora do Filho de Deus na face da terra.Maria viveu a Eucaristia quando carregou dentro de Si Cristo, a hóstia viva. Emsua encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, promulgada em 2003, São João Paulo IIproclama Nossa Senhora “Mulher Eucarística”. O Corpo de Cristo presente no PãoSagrado, também descende Dela. A divindade real no sacramento do altar habitou o seioda Virgem Santíssima. Por isso, este sacrário vivo é eternamente santo e imaculado.Entoemos um tradicional e belo cântico mariano, evocando a festa da ImaculadaConceição, cuja autoria é atribuída a Lamartine Babo, quando era aluno do Colégio SãoBento (Rio de Janeiro): “Ó Maria, concebida sem pecado original, quero amar-vostoda vida com ternura filial.”.