OS
114 ANOS DO IHGRN
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Naquela tarde de 29 de março de 1902, doze homens impolutos se reuniram
em Natal e fundaram uma instituição que passou a ser conhecida como a Casa da
Memória do Rio Grande do Norte. Eram desembargadores, políticos, juízes,
militares, comerciantes, religiosos e jornalistas. Doze homens e uma sentença:
“promover a verdade histórica da vida potiguar em qualquer sentido”.
Esse propósito está na ata do trabalho inaugural e ainda, até hoje, permanece
como fidelidade consuetudinária e chama votiva.
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte atravessou ao
longo de 114 anos, as noites escuras do tempo, quando muitas vezes, se assistiu
manifestar contra ele, a sanha dos indiferentes e a descrença dos insensatos. O
sopro idealista de um Vicente Lemos, Alberto Maranhão, Dionísio Filgueira,
Nestor dos Santos Lima, Aldo Raposo de Melo, continuou ao longo de 47 anos nas
mãos firmes e dinâmicas de Enélio Lima Petrovich. Uma instituição cultural de
natureza privada chegar a essa idade é um fato raro em qualquer parte do país
ou do mundo. Arrecadando meios insuficientes dos seus sócios e vivendo
unicamente de pedir, aqui e ali, quase mendigando, faz-me crer que a tarefa não
é para qualquer um. Mas ninguém pode negar o trabalho diuturno de um grupo de
abnegados em favor do Instituto. O contraditório existe em todas as
manifestações humanas, nas Igrejas, na Maçonaria, nas Forças Armadas, nas
Organizações Sindicais e Patronais, etc., mas, com relação ao IHGRN, é
imperioso saber que ele é o guardião da memória colonial, imperial e
republicana do Rio Grande do Norte. É preciso salientar, também, que esta
diretoria consolidou a destinação histórico-cultural da entidade. Desde 2014 o
desafio assumido por todos foi o de solidificar e ampliar o patrimônio
histórico e físico do IHGRN, restaurando-o e adaptando-o ao tempo, a nova
realidade, investindo na editoração de livros de pesquisa e de história, além
da digitalização do acervo, cujo convênio será celebrado com a Assembleia
Legislativa e instituições culturais públicas e privadas do Rio Grande do Norte.
Nós não nos limitamos apenas, a promover reuniões acadêmicas ou
lítero-recreativas. O mérito que nos cabe hoje é o de haver redimensionado a
capacidade do Instituto de produzir cultura com coragem, sacrifício e amor a
causa.
Constituir e manter o mais valioso acervo de manuscritos históricos do
Estado não é atividade fácil para qualquer administrador. Não desejo nessas
considerações de reconhecimento e louvor pelos 114 anos da Casa da Memória, tão
somente, pontuar os seus vultos principais, desde o governador Augusto Tavares
de Lyra que construiu o atual edifício que em 1938 passou efetivamente a
pertencer ao IHGRN, por gestões do então presidente Nestor dos Santos Lima.
Todas as suas fases foram de conquistas. Mas, nesse 29 de março de 2016, todos
nós devemos olhar para o passado e refletir sobre a obra criada e sentir a
imensidão de todos os espíritos que habitam a casa grande, nas fotos, nos
livros, nos manuscritos, agradecendo e afirmando que todo o esforço não foi em vão.
Abençoado sejam todos os atuais diretores e confrades que diretamente
ou indiretamente ajudam a não deixar cair por terra o impulso dos pioneiros
daquela tarde plácida e fagueira de Natal de março de 1902. No final do mês
concluirei o meu mandato de três anos com a certeza do dever cumprido e a
gratidão aos colegas de cujo apoio não poderia prescindir. Obrigado.
(*) Escritor.