Conferência resgata memória holandesa em época de expedição no RN
Benjamim Teensma ministrará palestra sobre busca de minas de prata no rio Potengi
Alvo de muitos massacres durante o século XVII, o Rio Grande do Norte
esteve por muitos anos na rota dos holandeses, que buscavam explorar as
riquezas existentes no Nordeste brasileiro. Geograficamente
estratégico, o estado sofreu a invasão entre os anos 1630 e 1654, devido
sua localização, servindo assim de ponto respeitável para o
fortalecimento do domínio holandês no Brasil. Mas a importância do
estado não era só essa.
A potencialidade do RN no tocante ao fornecimento de provimentos,
sobretudo carne bovina e produção açucareira, também interessava aos
holandeses. Naquele tempo, ainda havia rumores de que a existência de
uma mina de prata em solo potiguar poderia garantir riquezas aos então
invasores – situação que teria levado uma comissão composta por
militares holandeses, guias tupis e escravos a realizar uma expedição ao
longo do curso do rio Potengi.
Essa expedição será tema da Conferência “Os mocós da Itabiraba do
Córrego Retorto”, a ser ministrada em Natal na próxima quinta-feira (25)
pelo Dr. Benjamin Teensma, professor Emérito da Universidade de Leiden
nos Países Baixos. De acordo com o historiador, que veio à capital
potiguar a convite do Instituto Histórico e Geográfico do RN e do
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a recente
descoberta de um relatório feito à época da expedição pode mostrar uma
nova abordagem sobre a presença holandesa no RN. A conferência será
realizada no Instituto Histórico e Geográfico, a partir das 19h30.
“Existem dois relatórios feitos por oficiais militares na época da
expedição que mostram como teria sido realizada a rota pelo grupo
explorador. Esses relatórios, hoje preservados em acervo holandês,
tratavam das condições do espaço, trajeto e situações enfrentadas pelo
grupo”, conta Benjamin.
“Ambos os documentos são bastante fiéis às informações descritas.
Entretanto, recentemente, em 1995, foi tornado público um outro
relatório feito por um soldado que teria participado da expedição.
Fragmentos desse terceiro documento, publicado por um jornal alemão,
acrescenta mais informações que torna aquele evento mais interessante
para entendermos um pouco da história dos próprios holandeses, como
também dos potiguares”, relatou.
O historiador comenta que, em parceria com o potiguar Levy Pereira,
especialista em cartografia histórica, fez a transcrição do mais recente
relatório para a língua portuguesa, dando condições do cartógrafo
realizar um geoprocessamento da rota realizada pela expedição.
“As informações que confrontamos entre os três relatórios nos deu uma
nova abordagem de uma época da história vivida. Dessas novas
informações do relatório divulgado em 1995 nos mostra, por exemplo, como
era o perfil dos holandeses, suas hostilidades, as dificuldades
enfrentadas em solo potiguar, doenças acometidas e até modelos de
corrupção”, explicou Benjamin Teensma. “Mina de prata eles nunca
encontraram. É o que temos garantia de dizer. Mas podemos observar novas
‘heranças’ que eles deixaram”, disse o historiador holandês.
Com pouco tempo de permanência no Rio Grande do Norte, o historiador
acredita que a cultura holandesa da época importada para o então ‘Rio
Grande’, como era denominado o estado, jamais culminaria entre os povos
existentes na região.
“Estamos falando de cultura e sociologia muito diferente entre
diversos povos. Os holandeses tinham uma religião hostil e uma língua
impenetrável, por exemplo. Muito difícil que eles conseguissem deixar
marcas no povo”, disse.
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Postado dia 23/09/2014 às 15h24