26/07/2014


EU NÃO TROCO MEU OXENTE
Ariano Suassuna
Esse tal de rocambole
Esfirra, nissin, miojo
Quer-me ver cuspi com nojo
Ofereça-me um rizole
Prefiro uma fruta mole
Beliscada do vem-vem
Feijão de corda xerem
Canjica com leite quente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém
Tomar wiski importado
Na taça pra ser bacana
Sou mais um gole de cana
Num caneco enferrujado
Não sou muito refinado
Nem tenho inveja também
Druris conhaque almadem
Prefiro minha aguardente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém
Esses verbetes do inglês
Que usam no dia a dia
Não me trazem simpatia
Estragam meu português
Vou ser sincero a vocês
Sou muito mais meu quinem
Adonde, prumode, eim?
Acho mais inteligente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém
Eu não falo REDBUL
Prefiro touro vermelho
MIRROR pra mim é espelho
BLUE BIRD pássaro azul
Bonito e não BEAUTIFU
Falo dez em vez de TEN
BABY pra mim é neném
E HOT pra mim é quente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém
Não gosto de pancadão
Nem de RAP improvisado
HIP HOP  pé quebrado
Sem métrica e sem oração
Sou muito mais gonzagão
No forro do xem nhem, nhem
Gosto de aboio e também
De um baião de repente
Eu não troco meu oxente
Pelo ok de ninguém

25/07/2014

JN




Cardeal EUGÊNIO SALES

Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura

Aplicando a capacidade cognitiva à disposição de um labor construtivo, fez de Dom Eugênio Sales alvo do aplauso unânime dos seus patrícios.

Um Prelado originário de uma minúscula cidade - Acari, obscuridade geográfica do mapa-mundi, converteu-se no grande apóstolo da modernidade católica, cuja admi­ração causada pelo trabalho magnífico empreendido, atravessou fronteiras internacio­nais e chegou à abóbada do Vaticano.

Dom Eugênio tornou-se

"um virtuoso na arte do possível",

como diria Jean Lacouture (1991) a respeito do herói de Pamplona o fundador da Ordem Jesuíta, a instituição dos conquistadores e dos intelectuais da Igreja Católica Apostólica Romana.

A extraordinária trajetória do Cardeal Sales começou em nossa Capital, passando pela Cúria de Salvador e ultimando no Arcebispado da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Foram cinquenta anos de luta pertinaz, sem canseiras nem cavilações; nem de­magogia, sem alarde e sem buscar os holofotes da publicidade paranóica. Proeza fan­tástica somente realizável e consumada pelos verdadeiros líderes da Humanidade, la­bor incansável reconhecido por todos.

Não direi aqui as suas muitas realizações. O seu número exorbitaria do texto aqui aplicado. Não aludirei às suas Palestras nacionais e internacionais, às Medalhas rece­bidas, aos Troféus acumulados, os testemunhos dos políticos, intelectuais e Cardeais de todos os idiomas ditos a seu respeito e também de Pontífices. O seu curriculum vitae daria as páginas de uma plaquete. Desenho, apenas, nesta página, alguns traços marcantes da sua vida trepidante, a vol d’oiseau.

Pertence, Dom Eugênio, à categoria restrita daqueles bravos em que a Nação pode confiar o seu patriotismo e a Igreja o seu altar. Nele, dificuldade não era sinônimo de impossibilidade.

Ninguém poderá medir no compasso, pesar na balança, e pôr na estatística as realizações desse Notável condutor de almas. Muitas vezes pensava uma iniciativa pela manhã e na parte da tarde estava ela concretizada. A sua atividade indormida transfor-mou-o num grande administrador, auxiliada, também, pela clarividência de sua mente objetiva.

Disse Peter Druker, famoso autor da Ciência da Administração, que

"não há países subdesenvolvidos; e sim, sub-administrados".

Conclui-se desse corolário ser o bom político, o bom administrador o fator essen­cial do desenvolvimento civitizatório de uma nacionalidade. O Brasil já teve bons e me­díocres governantes todos sabem; como a Igreja Católica, Bispos realizadores e outros apenas contemplativos.

O Trabalho foi sempre a constante e a determinante ideia fixa posta em prática por esse audaz cavaleiro do Grande Rei, vencendo todos os aclives do caminho tortuoso percorrido. Ele semeou a semente do Bem no coração dos fiéis, dos infiéis, dos letrados e ignorantes, pois todos são filhos de Deus.

Como disse Vieira, tribuno inigualável, há muita diferença entre o semeador e o que semeia.

O semeador é o nome, o que semeia é ação! O apostolado de D. Eugênio foi todo de Ação.

Não havia óbices para o herói de Pamplona no ardor da sua luta. O mesmo se deu na vida do Cardeal Sales, toda ela determinada através de um trabalho pertinaz, em edificar uma Igreja melhor "Quero uma Igreja de Homens e não de pedras", disse certa vez, visando o Bem da humanidade, como induz a divisa jesuíta: Ad Majorem Dei glori­am (Para a maior glória de Deus).

Todos devemos ter um ideal, um ideal nobre. D. Eugênio acendeu a chama do ideal desde a mocidade.

"Felizes, disse Bordeaux, os que colocaram bem alto o sonho da sua vida". Afirmou Riboulet (Rumo à Cultura, 1977): "Quando o ideal se apodera de uma inteligência, domina-a completamente".

Expressões estas condizentes com a postura existencial do eminente Bispo potiguar, obedecendo, sempre, na sua vida um ideal nobre.

Eis por que exultava Pierre Rostand, da Plêiade, a chamar, sobre a amplidão da praia sombria, a onda sonora do ideal.

Além de cultuar um ideal elevado, Dom Eugênio aprofundou-se no fazer, dizendo com Carlyle:

"O viver é uma conjugação ininterrupta do verbo fazer".

Não o fazer por fazer, da multidão anônima; mas, o fazer programado pela inteli­gência e acionado pela vontade: o savoir faire!

De suas meditações e questionamentos redundaram mudanças importantes no Governo pontifício. A sua palavra autorizada foi ouvida por Chefes da Cristandade.

A formação do ínclito varão católico foi mais intensificada no ambiente temporal, do que propriamente no ambiente religioso, embora jamais descurasse a atenção primacial deste último. Cursou o Seminário depois do período turbulento da puberdade. Passou a infância e parte da adolescência envolvido na sociedade profana, leiga e libe­ral.

Diversa, portanto, a sua visão social daquela vislumbrada pela maioria dos seus colegas de ministério eclesial. Assim foi a vida de Loyola; do Bispo de Hipona e de alguns Papas, dentre eles João XXIII e Paulo II.

Daí, a inclinação de D. Eugênio, desde a Ordenação em buscar responsabilidades junto aos leigos, para juntos atuarem nas comunidades ditas carentes. Tal se depreende do texto bíblico, a atuação de Esdras, o sacerdote e de Neêmias, o leigo; animados ambos, numa ação conjunta pelas terras da Judeia.

Ciente da força da Imprensa, usou o Jornal, o Rádio e depois a Televisão, para ampliar a voz do púlpito.

A prece contemplativa no Altar e a ação do Trabalho formaram o binômio vitorioso da trajetoria do aplaudido Pastor. Jamais foi dobrado pelo cansaço na caminhada por estrada tortuosa, sem admitir recuos ou desfalecimentos.

Lembra esse labor incansável, as palavras incisivas de Henri Bergson:

"O que me impressiona em Jesus, é essa ordem de ir sempre avante. De modo que se poderia dizer que o elemento estável do Cristianismo é a ordem de jamais se deter".

Por todos reconhecida a extraordinária gesta de meio século pela Igreja, pelos trabalhadores, pela sorte dos detentos e reclusos e dos pobres em geral e também guieiro da elite social.

Foi ele um Pastor que teve dignidade no cargo exercido, em consideração e reve­rência aos postulados éticos do Cristianismo.

A propósito disso declarou Guizot:

"A Igreja Católica é a mais vasta escola de respeito, de obediência e de autoridade".

O eminente nordestino foi uma das autoridades mais acatadas da nação brasileira.

Não irei mais me alongar sobre personalidade tão significativa, mesmo porque dela falar seria um nunca acabar...

Numa palavra, foi ele o grande Príncipe da nossa Igreja!

O Cardeal Eugênio de Araújo Sales não é somente uma destacada figura do Rio Grande do Norte e do Brasil; tem ele o seu nome augusto lugar perpétuo na galeria restrita e luminosa dos imortais vultos da Humanidade.




24/07/2014

A IMORTALIDADE E ARIANO


A imortalidade literária é um contrato social, que se perpetua desde muito tempo, até que o Acadêmico termine os seus dias nesta dimensão da vida, quando outro ocupa o seu lugar. Contudo, a verdadeira e definitiva imortalidade remanesce nas obras que deixa como legado de sua existência. 
ARIANO SUASSUNA morreu fisicamente, mas os seus escritos ficarão para sempre.
Bem Aventurados os que conviveram com ARIANO; Privilegiados os que conheceram e os que vão conhecer seus trabalhos. ARIANO CONTINUA VIVO NO MUNDO IMORTAL DA LITERATURA E SERÁ SEMPRE UM MARCO NA GEOGRAFIA SENTIMENTAL DO NORDESTE DO BRASIL.
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23/07/2014 18h01 - Atualizado em 23/07/2014 18h45

Morre no Recife, aos 87 anos, o escritor Ariano Suassuna

Ele sofreu um AVC na noite de segunda-feira e passou por cirurgia.
Nascido na Paraíba, ele vivia no Recife desde 1942.

Do G1 PE
Em março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o Festival de Teatro de Curitiba (Foto: Lenise Pinheiro / Folhapress)Em março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o Festival de Teatro de Curitiba (Foto: Lenise Pinheiro / Folhapress)

 Morreu no Recife, nesta quarta-feira (23), o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna, aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia na mesma noite após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico. Segundo boletim médico, o escritor faleceu às 17h15. "O paciente teve uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana".
O velório do corpo do escritor começa ainda esta noite, no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, que decretou luto oficial de três dias. A partir das 23h, será aberto o acesso do público ao local. O enterro está previsto para a tarde de quinta-feira (24), no cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife.
Internamentos
Em 2013, Ariano foi internado duas vezes. A primeira delas em 21 de agosto, quando sentiu-se mal após sofrer um infarto agudo do miocárdio de pequenas proporções, de acordo com os médicos, e ficou internado na unidade coronária, mas depois foi transferido para um apartamento no hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de repouso e nenhuma visita.
Dias depois, um aneurisma cerebral o levou de volta ao hospital. Uma arteriografia foi feita para tratamento e ele saiu da UTI para um apartamento do hospital, de onde recebeu alta seis dias depois da internação, no dia 4 de setembro.
Na noite de segunda-feira (21), Ariano Suassuna deu entrada no hospital e foi operado após o diagnóstico do AVC. A cirurgia foi para a colocação de dois drenos, na tentativa de controlar a pressão intracraniana. Na noite de terça, o quadro dele se agravou, devido a "queda da pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada", conforme foi informado em boletim.
Na aula-espetáculo, Ariano mistura causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestin a (Foto: Costa Neto / Secretaria de Cultura de Pernambuco)Na aula-espetáculo que ministrou no Festival de Inverno de Garanhuns, na semana passada, mais uma vez Ariano misturou causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestina; o grupo Arraial foi o convidado para os números de música e dança (Foto: Costa Neto / Secretaria de Cultura de Pernambuco).

Ativo até o fim
Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia em plena atividade profissional. "No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra", disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo.
Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada.  Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o carnaval”, disse, na ocasião.
No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.
Na última sexta-feira, Suassuna apresentou uma aula espetáculo no teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns, durante o Festival de Inverno. No carnaval do próximo ano, o autor paraibano deve ser homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.
Com montagem d'O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a crítica brasileira (Foto: Acervo pessoal / Ariano Suassuna)Com montagem d'O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a crítica brasileira (Foto: Acervo pessoal / Ariano Suassuna)
Obra
A primeira peça do escritor, "Uma mulher vestida de sol", ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, "O Auto da Compadecida", em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada – e ganhou o prêmio – no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.
O escritor considera que seu melhor livro é o “Romance d'A Pedra do Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”. A obra começou a ser produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi adaptada por Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o nome de "A pedra do reino".
Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.
Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990.



Eduardo Alexandre Garcia
Eduardo Alexandre Garcia  
Real Erário: A Vaca Amarela
Daliana Cascudo

Esse edifício “foi construído nas últimas décadas do século XVIII”, para nele funcionar os serviços administrativos da Fazenda Real, passando logo a ser chamado pelo povo Real Erário e a partir do século XIX, Provedoria da Real Fazenda. Está localizado na Praça André de Albuquerque, ao lado direito da antiga Catedral da Apresentação de Natal.

Diz Câmara Cascudo, em História da Cidade do Natal, que José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, em Memória Histórica do Rio de Janeiro, VI, conta em 1822 quatro sobrados na cidade do Natal: Casa de Câmara, com a cadeia em baixo (hoje inexistente), Residência dos Governadores (demolido em 1630), Fazenda Pública (demolido em 1865 e substituído pelo atual Palácio do Governo) e outro mais que estava por acabar nas suas obras, e que se acabou e é o número 601 da Rua da Conceição, apelidado a Noiva ou Sobradinho.

E o sobrado do Real Erário? (...)

Mais: História da Cidade do Natal
24 de Julho, 09 horas
Memorial Câmara Cascudo
Praça André de Albuquerque, Cidade Alta

23/07/2014



Tecnologias


Dalton Mello de Andrade

            Há poucos dias um dos meus netos, que me vê constantemente no computador, ao piano, lendo, vendo TV, me perguntou como usava meu tempo quando era menino, adolescente. Quando não haviam todas essas tecnologias que me apaixonam. E sempre me apaixonaram; há 56 anos sou radioamador. E há mais de vinte uso computador.
            Por falar em tecnologias, um comentário. Há poucos dias, li em algum lugar que os novos instrumentos de comunicação unem pessoas que estão longe e distanciam as que estão perto. Um dos meus netos chegou aqui em casa, beijou a avó e a mim, sentou-se, pegou o celular e não deu mais uma palavra. Não tive dúvida. Liguei para ele e assustou-se quando atendeu. Vô, estou aqui ao seu lado. Minha resposta, não parece. Para falar com você, só ao telefone.
            Mas, voltando ao assunto. Tentei explicar-lhe. Depois das aulas, quando chegava em casa, das primeiras coisas que fazia, junto com os colegas da rua, era jogar futebol. Depois, surgiu o vôlei, muito depois o tênis. E isso tomava uma boa parte do dia.
            Como estávamos em plena guerra, e  morava na Rua Açu, pertinho da Hermes da Fonseca, também ficava um bocado de tempo vendo o movimento intenso, inclusive a construção da pista que ligou Natal à Parnamirim. Muitas vezes, ia com meu pai, cuja empresa fez a maioria dos quartéis do Exército e alojamentos na base americana, para ver essas construções. No PX (Post Exchange, espécie de  supermercado) da base americana, tomei minha primeira Coca-Cola e comi meu primeiro hambúrguer. E comprava livros e revistas em inglês, pois começava a aprender a língua.
            Outro passatempo que adorava era ler. Ficava horas agarrado com um livro – de qualquer assunto. As revistas em quadrinhos também me atraiam. A revista X-9, histórias de detetives, que comprava na loja de Luís Romão, na Tavares de Lira. Dick Tracy, O Fantasma, Capitão Marvel, Homem Submarino, Homem Tocha, Superman, Flash Gordon, e outros, enchiam parte do meu tempo. Como a família era grande, me escondia em algum lugar da casa, que também era grande, para não ser incomodado. Também gostava de ler “Tesouros da Juventude”, uma espécie de enciclopédia, e “Viagens pelo Brasil” (acho que o autor era Viriato Correia), que talvez nem sejam mais encontrados.
            Na nossa casa tínhamos um potente rádio de ondas curtas, que permitia a gente escutar o mundo inteiro. Para minha sorte, depois de ouvir o noticiário da Rádio Nacional, meu pai desligava o rádio, ia ler os jornais, ou outra coisa qualquer. E aí o rádio ficava só para mim. E eu passeava pelo mundo inteiro – BBC, Voz da America, que começava a aparecer, a Rádio de Berlim, com as suas mentiras sobre a guerra, contrastando com a BBC de Aimberê, e as estações brasileiras, especialmente a Rádio Nacional – com “O Sombra, O Justiceiro, Edifício Balança mas não cai”, em que Paulo Gracindo fazia o Primo Rico e Brandão Filho o Primo Pobre. Foi de tanto ouvir rádio que surgiu o meu interesse pelo radioamadorismo.
            Das nacionais, a mais fácil de escutar era a PRA-8, de Recife. Tinham alguns programas interessantes. Ainda me lembro de uma propaganda que ficou na memória. Uns versinhos que diziam: “Todo magro quer engordar, todo gordo quer emagrecer; para o gordo não tem que fazer, para o magro biscoito Pilar”. Biscoitos que ainda existem, e devem agora ser “light”, já que ninguém quer engordar.
            Depois de toda essa conversa fiada, convidei-o a assistir um concerto no “YouTube”, por intermédio do “Apple TV”. Para explicar-lhe e mostrar as diferenças entre o meu tempo e o dele, frisando: no meu tempo era muito bom, mas hoje, com todas essas novas possibilidades, é muito melhor. Como eu não imaginei, lhe disse, você também não imagina o que tem pela frente.


  

DIA 23 DE JULHO

H  O  J  E

 
 
 





22/07/2014


A calça Lee

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


Na década de 1960, começaram todas as revoluções jovens nos Estados Unidos: Guerra do Vietnã, liberação sexual, liberação feminina, black power, minissaia e o jeans. Isso influenciaria o mundo todo.
Naquele tempo, as calças de índigo blue começaram a se popularizar em Natal – era a onda do rock’n’roll e do movimento hippie. 
A juventude da época dava preferência à marca Lee, com seu tom desbotado, embora já existissem similares nos Estados Unidos há décadas, como a Levi’s e a Wrangler.
Talvez a razão dessa preferência fosse o fato de a Lee ter sido a pioneira no uso do zíper, bem mais aceito pelos jovens que os botões metálicos difíceis de abrir.
A calça Lee virou uma febre. Todos nós, garotos da época, sonhávamos em ter nossa calça Lee importada, o que não era fácil. Importada e sobretaxada custava muito caro. Mas, esse não era o principal problema. Como ela era produzida nos moldes americanos tinha que ser reformulada (recortada) para cair bem no nosso corpo.
Vocês devem lembrar de Chiquinho Alfaiate, que funcionou inicialmente na Rua General Osório, e depois mudou-se para cima da Casa Rio. Vivia lotado!
Muitos cantores usavam o tema em suas músicas. Wilson Simonal gravou em 1965 Garota Moderna: “Tão bonita que ela é; cabelos lindos como eu nunca vi; camisa esporte e calça Lee”.
Roberto Carlos lançou em 1971 I love you: “Uma calça Lee agora vou comprar; vou ficar moderninho  para chuchu”.  
Chico Buarque gravou em 1979: “No Tocantins, o chefe dos Parintintis vidrou na minha calça Lee”.  
Surgiram então vários acessórios Lee – do cinturão largo, estilo “caubói americano”, aos blusões feitos do mesmo material – sarja de algodão cru, tingido de índigo, corante natural de azul intenso, extraído da raiz de uma planta indiana (índigo).
Até o início da década de 1970 para nós o bom era a calça Lee, embora no Brasil já houvessem alguns modelos lançados que não foram bem aceitos. Uma das razões principais era que não desbotavam como a Lee.
Muitos ainda traziam suas calças Lee diretamente dos EUA – por intermédio de algum amigo ou parente que viajasse para lá ou fizesse intercâmbio cultural, uma prática já bastante comum naquela época.
Da marca norte-americana, o “blue jeans” se tornou uma preferência nacional e muitas marcas brasileiras se distinguiam na produção dessas peças.
O jeans era um estilo de ser, um estilo de vida.
Na década de 1980, os produtos confeccionados em denim índigo blue tinham uma aceitação e consumo tão grande que dominavam o mercado de roupas prontas no Brasil.
Até os dias atuais, a geração que adotou o jeans nunca deixou de usá-lo.