DIRÃ – Berilo de Castro
DIRÃ –
Nas décadas de 1960/70, o futebol do interior
do Estado teve o seu apogeu. Um futebol muito respeitado, com boas e
fortes equipes. Diga-se, a região do Seridó: Caicó, Currais Novos,
Parelhas; na região agreste: o bom time do Nova
Cruz; Santa Cruz, Baixa Verde (João Câmara), Monte Alegre.
Nessa época, o bom time de Currais Novos
tinha um excelente jogador que atuava no meio de campo. Jogador
expressivo, meia avançado, que jogaria em qualquer time da região do
Sudeste.
Seu nome: Dirã. Bonito título. O seu belo
futebol contrastava com a seu biotipo: de baixa estatura, cabeça chata,
olhos repuxados, boca larga, lábios finos, dentadura destrambelhada,
pele morena acinzentada, cabelos pretos e ralos.
O bom time de Currais Novos tinha marcado um
importante jogo contra a forte equipe do Corinthians de Caicó. Jogo que
definiria a liderança do futebol da região. Encontro muito comentado e
esperado, pelo fato de ser pela primeira
vez acompanhado e transmitido pelas rádios e por toda imprensa
esportiva da capital potiguar.
Domingo, casa cheia, — Estádio Coronel José Bezerra, tarde bonita e festiva, de sol forte, na terra da Scheelita.
Jogo iniciado, o time de Currais Novos muito
bem em campo, dominando todas as ações. Dirã tomava conta do jogo, com
dribles desconcertantes, fazendo tabelas e mais tabelas com outro grande
jogador meio-campista Neném de Núbia com
sua vasta e bonita cabeleira; passes curtos e rápidos, chamando a
atenção de toda a impressa e recebendo aplausos da grande torcida
curraisnovense.
Final de jogo, ampla, justa e larga vitória do time de Currais. Herói e artilheiro da partida: — Dirã.
Toda a imprensa presente no Estádio correu para entrevistar o craque maior do jogo, o herói da partida:
— O repórter: Dirã, que beleza de futebol!
Você recebeu o Motorádio com louvor e justiça. Impressionante o seu
futebol, joga em qualquer time grande do Brasil!
— Dirã, uma curiosidade: você tem
descendência francesa? Ou quem sabe o seu pai foi prestar uma homenagem
ao craque francês Didier Deschamps ou referenciar o ídolo argentino Di
Stefano, que fez história na equipe milionária do
Real Madri. Afinal, um nome de craque: Dirã!
— Dirã, na sua simplicidade e timidez interiorana, olhando para o chão, responde:
— Na verdade, desde criança que me chamavam
de c. de rã ( anfíbio anuro da família Ranidae); aqueles que me deram
essa alcunha afirmam que eu tenho a cara igualzinha a um c. da rã.
Estranho, não? Mas o que fazer? Quando comecei
a jogar futebol, o treinador um tanto preocupado com a estranheza do
apelido, me chamou no canto de muro e perguntou como eu gostaria de ser
chamado, uma vez que estava me destacando nos jogos e, para ele (o
treinador), eu tinha boas chances de progressão
no futebol nacional. Continuou, o treinador, do jeito que está é que
não pode ficar. Pensei, pensei e disse: vamos tirar o c. e deixar só —
de rã — o treinador respondeu afirmativo, fica bem melhor sem o c. e
podemos unir o D com o i, formando Dirã. Uma boa
ideia, professor! Fica à altura do seu bom futebol. Um Dirã
afrancessado, lembrando e referenciando os grandes craques
internacionais.
Dirã saiu sorrindo e feliz!
Berilo de Castro – Médico e Escritor