Dom Jaime Vieira Rocha,
Arcebispo de Natal, RN Lema: "Scio Cui Crediti"
AOS
PRESBÍTEROS, AOS DIÁCONOS, ÁS PESSOAS CONSAGRADAS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS DA
ARQUIDIOCESE DE NATAL POR OCASIÃO DA PÁSCOA DO SENHOR DE 2015
Saudações vibrantes! Cristo Ressuscitou!
É ele a
razão de nossa alegria! Aleluia!
No
momento em que celebramos o mistério da Páscoa de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo, verdade central e princípio motivador da fé cristã, somos instados a
buscar à concretude da graça pascal com um olhar de co-responsabilidade no
exercício da cidadania. Como nos diz o beato Paulo VI: “A ação política dos
cristãos é forma exímia e eminente de caridade”. Nesse espírito de
caridade, convidamos todo o Povo de Deus, e cada fiel batizado em
Jesus Cristo, homens e mulheres de boa vontade, para nos unirmos em favor do
Brasil e do Povo brasileiro.
Todos
sabemos dos graves problemas que se abateram sobre o Estado Brasileiro, diante
da revelação dos graves casos de corrupção, operados por agentes políticos com
a participação de setores empresariais, que, juntos, lapidaram o patrimônio
público construído pelo trabalho suado de homens e mulheres de bem que honram a
pátria brasileira.
A crise
estabelecida – e alimentada pelos inimigos da democracia – traz à luz as
mazelas históricas ainda presentes nas práticas de alguns que usurpam do poder
político para se locupletarem do bem comum.
A conduta
e atitudes de alguns, eivadas e alimentadas por práticas de corrupção,
principalmente para macular o processo eleitoral brasileiro, há tempo adornam o
noticiário cotidiano. Entretanto, sempre foram negligenciadas ou relativizadas
pela opinião pública. Enquanto isso, o Estado brasileiro ainda permanece omisso
na resolução dos graves problemas estruturais da sociedade, particularmente
aqueles referentes às áreas de saúde, de educação, de acesso ao solo urbano e à
reforma agrária, à distribuição de renda e à segurança dos cidadãos. Omissão
agravada pelo despreparo e falta de compromisso de parte da classe política,
que preferem à violência, usando do aparelhamento estatal para eliminar aqueles
que por ausência dessas mesmas políticas públicas, são jogados no crime
organizado, e, agora, com a possibilidade de ingressarem até mais cedo pela
redução da maioridade penal.
Caríssimos
irmãos e irmãs!
Diante de
tantos desafios, o Povo Cristão não pode ficar e permanecer inerte. A
multiplicação e complexidade das relações sociais no tempo presente torna o
papel do Estado mais complexo. Exige-se do Estado que penetre mais
profundamente em toda a vida social, o que requer tanto mais discernimento dos
cristãos e lhes coloca a obrigação de se informarem melhor.
Uma
exigência que a fé coloca para o cristão engajado na política é a necessidade
de agir. Análises, denúncias e estudo das soluções não bastam. É preciso
orientar esses elementos para a tomada de decisões e para o empenho na ação.
Não basta
recordar os princípios, afirmar as intenções, fazer notar as injustiças
gritantes e proferir denúncias proféticas; essas palavras ficarão sem efeito
real, se elas não forem acompanhadas, por cada um em particular, de uma tomada
de consciência mais viva da sua responsabilidade e de uma ação efetiva. É
demasiadamente fácil jogar sobre os outros a responsabilidade das injustiças se
não se dá ao mesmo tempo conta de como se tem parte nela e de como a conversão pessoal
é necessária, mais do que qualquer outra coisa (Cf. OA, 48). Como Igreja
devemos cumprir o mandato bíblico a partir do que nos apresenta o profetas
Isaias “O espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu, me enviou
para curar os corações feridos, para proclamar a libertação, para anunciar a
graça, para consolar!” (cf. Is. 61,1), desta forma, compreendemos que o
cristão, assumindo sua dimensão profética do batismo é um mensageiro de
esperança! Um arquiteto da justiça! Um construtor permanente da paz!
Na
vivência de construtores permanentes da paz, percebendo a atual crise que
coloca em risco a Democracia Brasileira, esta que foi conquistada com o
envolvimento das classes políticas e de todo o povo, e que custou muito
sacrifício e sofrimento, não podemos ficar apáticos diante da exigência desse
momento histórico. A ocasião exige a participação de todos os que lutaram,
acreditam e trabalham para fortalecer e consolidar os valores democráticos no
cotidiano de nossas relações como cidadãos. É hora da cidadania! E cidadania
ativa!
É no
exercício da cidadania ativa que está a essência da Democracia. A cidadania
ativa e emancipada se conquista no cotidiano. A cidadania cotidiana é o caminho
adequado para fazer frente às mazelas políticas, sociais e econômicas que nos
perseguem, que se traduzem por atos de violência, às vezes praticados pelo
próprio Estado contra os cidadãos; posturas discriminatórias e preconceituosas;
percepção equivocada de direitos, e materializados como privilégios para
alguns; clientelismo; corporativismo, autoritarismo; corrupção, entre outros.
A prática
cidadã é uma das responsáveis pela construção de espaços públicos, onde todos
recebam do Estado a garantia do seus direitos fundamentais – moradia, trabalho,
saúde e educação. Não há cidadania quando não se garante a construção
democrática de uma ordem pública para o exercício pleno da representação plural
dos interesses dos cidadãos mediante um amplo processo de interlocução e
negociação.
Então,
diante da inquestionável crise por que passam, no Brasil, as instituições da
Democracia Representativa, especialmente o processo eleitoral, decorrente este
de persistentes vícios e distorções, tem produzido efeitos gravemente danosos
ao próprio sistema representativo, à legitimidade dos pleitos e à credibilidade
dos mandatários eleitos para exercer a soberania popular.
O momento
exige a participação de cada cidadão para cobrar das Casas do Congresso
Nacional uma Reforma Política Democrática que estabeleça normas e procedimentos
capazes de assegurar, de forma efetiva e sem influências indevidas, a liberdade
das decisões do eleitor.
Cabe a
cada um de nós manter-se vigilante e atento aos acontecimentos políticos atuais
para que não ocorra nenhum retrocesso em nossa Democracia, tão arduamente conquistada.
Para
tanto, é necessário que todos os cidadãos colaborem no esforço comum de
enfrentar os desafios, que só pode obter resultados válidos se forem
respeitados os cânones constitucionais, sem que a Nação corra o risco de
interromper a normalidade da vida democrática.
Participemos
todos, então, da campanha de assinaturas de adesão à proposição de uma Reforma
Política Democrática, realizada por uma constituinte exclusiva e soberana, com
a responsabilidade de mudar o sistema político para evitar que a esfera privada
continue dominando e sugando a espera pública, além de promover as reformas
urgentes e necessárias que garantam a igualdade de direitos econômicos,
sociais, ambientais, culturais e civis para todos os brasileiros.
Não faz
sentido realizar uma reforma política feita por um Congresso que é parte do
problema, e não da solução.
Por fim,
lembremo-nos que o cristão é movido e animado por uma profunda esperança,
fundada na certeza de que o Senhor Ressuscitado continua no meio de nós e
acompanha nossas ações, operando por meio de nós. O cristão sabe que não está
sozinho. Deus opera em outras pessoas e grupos, inspirando-lhes ações a favor
da justiça e da paz. Nossa ação se junta à de muitas outras pessoas,
instituições, até formar uma grande corrente, capaz de mudar as mentes e
estruturas (Cf. Paulo VI, AO, 48).
Invocando
o olhar materno da Virgem Mãe e Senhora Aparecida, supliquemos ao Bom Deus a
esperança de podermos juntos, como cidadãos e como cristãos, construirmos uma
pátria mais justa que seja amada e gentil Mãe de todos os brasileiros.
A minha
especial bênção de Páscoa!
Natal-RN,
5 de abril de 2015
Domingo
da Ressurreição
Dom Jaime Vieira
Rocha
Arcebispo Metropolitano de Natal
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