Elísio Augusto de Medeiros e Silva
Empresário,
escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
Em
1906, quando Tibério chegou a São Francisco – EUA, poucos cidadãos
norte-americanos se dispunham a adquirir automóveis – a carruagem sem cavalos. Muitos
se afastavam daquelas “máquinas infernais” e parte dos que tinham adquirido
mostravam-se arrependidos da aquisição.
O
automóvel que logo depois se mostraria eficaz, na época era visto como uma
ameaça pela população. Os poucos proprietários eram alvos de advertência,
escárnio e certa dose de antipatia pública.
Despejava
fumaça nas ruas, levantava nuvens de poeira, fazia muito barulho, atrapalhava o
tráfego dos cavalos e os assustava. Os legisladores logo tomariam diversas medidas
contra ele.
Em
determinada cidade americana, as leis exigiam que os condutores de automóveis
parassem, saíssem do interior dos veículos e acendessem sinalizadores toda vez
que surgisse algum veículo à tração animal.
Em
Massachusetts, chegaram a tentar tornar obrigatório equipar os automóveis com
sinos que soariam a cada giro das rodas.
Havia
cidades em que a polícia estava autorizada a impedir a circulação de carros de
passageiros usando cordas, arames ou correntes. Podiam em caso de desobediência
até atirar, com cuidado para não ferir os condutores.
A
Cidade de São Francisco não foi exceção – oficiais locais cumpriam a lei,
proibindo os automóveis de circularem no Campus de Stanford e nas áreas
turísticas da cidade.
Além
disso, somava-se a essas proibições o alto custo de um automóvel. O modelo mais
barato era o dobro do salário anual da época de um cidadão comum. Alguns
modelos chegavam a custar mais que o triplo.
Na
época só era vendido a carcaça, o motor e as rodas do veículo – as demais peças,
como para-choques, carburadores e faróis, eram considerados “acessórios” e
cobrados à parte.
Dar
a partida do motor era tarefa exclusiva dos homens, que, num descuido, podiam
até deslocar o braço, pulso, etc.
Como
ainda não existiam postos de gasolina, os audaciosos proprietários de veículos
automotores precisavam dispor de latas com capacidade para cinco galões de
combustível, que enchiam nas drogarias a “sessenta centavos” o galão. Ainda
existia o risco de a gasolina ser “batizada” com benzeno.
As
mulheres eram orientadas para se “afastarem daquelas máquinas”, pois corriam o
risco de serem sufocadas, certamente, pelos gases venenosos que expeliam. Algumas
mulheres de espírito aventureiro começavam a usar o “chapéu para-brisa” – uns
balões de tecido, enormes, equipados com uma janela de vidro, que cobriam a
cabeça inteira, mas que permitiam usar os avantajados penteados vitorianos.
Já
começavam a ser instalados os primeiros sinais de trânsito por um agente de
seguros, que eram usados a título promocional de sua companhia.
Naquela
época, o ato de dirigir era difícil e para poucos. Exigia uma grande habilidade
e certa dose de paciência.
Os
primeiros automóveis eram tão pouco potentes que, raramente, conseguiam subir
as ladeiras mais íngremes. A título de galhofa, muitas pessoas se reuniam
nesses locais, observando o esforço da máquina diante das ladeiras.
Certa
caricatura da época mostrava um casal abastado, parado no acostamento de uma
estrada, ao lado do veículo sem funcionar. A legenda dizia: “O rico inútil”.
Quando
um daqueles automóveis quebrava era um transtorno, pois ainda não existiam
oficinas mecânicas para automóveis. Os motoristas se valiam dos curiosos e
todos os tipos de mecânicos. Eram muito procurados os mecânicos de bicicletas.
Contudo,
apesar de todas as dificuldades, logo começariam as primeiras corridas de
automóveis. Essas aventuras, não isentas de risco, provocaram muitos acidentes.
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