C A S O S M A I S R E C E
N T E S
Por: GILENO GUANABARA, sócio efetivo do IHGRN
- Natal de abril de 1964. Um grupo de
funcionários dos Correios exercia intensa militância política. Um de nome Néco era
ativista, atraía para si os debates acerca das reformas de base e a defesa
intransigente do governo de João Goulart. Néco se envaidecia também pelo fato
de privar a amizade do Capelão, padre Eladio Lereste Monteiro, cujo apreço
decorria de ter celebrado o seu casamento religioso. Com o golpe de 1964, os militantes
da esquerda que estavam presos no quartel do Exército foram surpreendidos com a
visita do capelão Eladio. Da grade da cela, depois de demorada observação, o
padre manifestou: Espere... Não estou vendo o meu compadre Néco...No dia seguinte Néco chegou preso e ficou
recolhido na cela dos demais.
- O líder
católico Otto de Brito Guerra era reconhecidamente conservador. Professor da
Faculdade de Direito, na cadeira de Direito Civil, quando ocorreu o golpe de
abril de 1964. Dentre os presos políticos estava o prefeito de Natal, Djalma
Maranhão. Dada a repressão exercida pelas forças militares, poucos advogados
aceitavam patrocinar a defesa dos presos. Otto Guerra aceitou fazer a defesa de
Djalma Maranhão. Durante a audiência de instrução, uma testemunha arrolada
referiu-se, e constou da ata, que Djalma Maranhão fazia festança comunista à noite, em
sua casa na praia de Ponta Negra. Dada
a palavra ao defensor, Dr. Otto interpelou da testemunha se ela sabia explicar
o que era exatamente festança comunista. A
testemunha respondeu: Acho que era uma
brincadeira do Bumba meu boi.
- No mês de
março de 1964, um grupo de intelectuais engajados encenou no então Teatro
Carlos Gomes a peça Novo julgamento de
Tiradentes. Escrita por Luís Maranhão a quatro mãos, teve a participação de
universitários. Dos atores, constavam Hélio Vasconcelos, (defesa); Jansen
Leiros (acusação); Danilo Bessa, Antônio Capistrano, Guaracy Queiroz (jurados),
dentre outros. Para consagrar o clima da estreia, sindicalistas, trabalhadores
e estudantes foram convidados e lotaram o teatro. Sorteado o corpo de jurados,
feita a leitura do libelo-crime acusatório, deu-se o contraditório com a acusação
e a defesa destacando seus pontos de vista.
Sentado na
primeira fila, havia um ativista apelidado de Pelé que, nas horas vagas,
distribuía na cidade o jornal do Partido Comunista, A Voz Operária. A ele, foi atribuído
o papel de, no auditório, tão logo fosse lida a condenação, se insurgir por um
novo júri. Um estivador sentado ao seu lado não sabia do combinado. Tão logo
foi decretada a morte e esquartejamento de Tiradentes, Pelé levantou-se
entusiasmado: Meritíssimo juiz, em nome
do povo brasileiro, protesto por um novo júri. O estivador puxou Pelé pelos
fundos da calça, fê-lo sentar e fulminou: Senta
negrinho, isso não vai dar certo...
- Nos idos
de 1962, Aluísio Alves tinha como vice-governador o líder do PSD no Estado,
Theodorico Bezerra, que integrou a Cruzada da Esperança. Tendo que viajar ao
Estados Unidos, a fim de firmar compromissos com Aliança para o Progresso, do governo
americano, afim de financiar o projeto de alfabetização de adultos pelo método
Paulo Freire, o governador não estava disposto a transferir o governo ao vice.
Aluísio presenteou Theodorico com uma viagem à África, a título de férias. Adicionou
um safari e caça a elefantes. Para tal, deu-lhe de presente, uma espingarda de
grosso calibre, com luneta, própria para a caça de animais de grande porte. Orgulhoso,
Theodorico partiu em viagem à África. Fotos o retrataram pisando um elefante abatido.
Aluísio seguiu aos EUA. Só assim, transferiu o governo ao irmão Garibaldi
Alves, deputado e presidente da Assembleia.
- Um gozador
era o professor Carlos Augusto Caldas que ensinou na cadeira de Processo Penal
na Faculdade de Direito de Natal, na velha Ribeira. Fora auditor militar no Rio
de Janeiro e desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Na
condição de presidente do Tribunal, por vacância do Executivo, foi convocado a
exercer o cargo de governador, a fim de dar posse a Aluísio Alves, em 1960. Gracejava
perante os alunos, nos intervalos das aulas: Sou o único ex-governador que nunca se locupletou com o dinheiro do Estado.
Mas fui governador por apenas seis horas...
- No ano tenso de 1970, uma cidadã
que nada tinha de militância política se hospedou no apartamento de familiares,
defronte ao quartel que abrigou os líderes políticos de oposição presos depois
do golpe. Bem a sua vista, cedo da manhã, ocorria a solenidade de hasteamento
da bandeira. A tropa perfilada, à frente a banda de música executava o Hino
Nacional. Trajando um traje sumário, do alto do seu camarote e de posse de uma
pequena bandeira, a visitante fazia a sua exibição, com mogangas direcionados à
solenidade. Passados alguns dias de repetida e inconsequente performance, bateu
à porta do apartamento uma comissão de militares. Em ofício, o comando militar
oficializava o agradecimento à ilustre cidadã que anonimamente se manifestava
com inusitado ardor patriótico, em respeito ao símbolo maior da nacionalidade,
a bandeira nacional, durante o ato de seu hasteamento matutino perante a tropa.
- Petit das Virgens e outros
jornalistas foram convidados pelo cerimonial do Governo Federal, presidente à época, o General Garrastazu Médici, a fim de darem
cobertura jornalística ao lançamento de um foguete experimental da Base de
Barreira do Inferno. O clima político do país era extremamente grave. Próximo à
plataforma do lançamento, ao lado do presidente, enfileiravam-se os
governadores e, logo atrás, os jornalistas e militares convidados. No silencio que
dominou os presentes, enquanto o artefato subia, Petit não conteve a emoção e
disse em alta voz: O perigo é quando as
tabocas começam a despencar. Os militares se voltaram em sua direção. Palavras ouvidas, ditas estavam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário