MARACAJAÚ
Jurandyr Navarro
Do Conselho Estadual de Cultura
A praia de Maracajaú derrama suas águas no sentido norte da Grande Natal,
depois das bandas do Ceará-Mirim. é uma praia aconchegante, até agora em estado selvagem e de beleza
natural, onde se ouve, ainda, o doce gorjeio dos pássaros,
por se achar distanciada das ondas gasosas e sonoras da poluição.
Magníficos panoramas descortinam o seu
firmamento que deslumbra os espíritos mais sensíveis.
À sua entrada, através do aldeamento dos pescadores, o visitante
é recepcionado pelo murmúrio
suave de sua brisa, balouçando as folhagens dos seus altos
coqueiros, qual bosque encantado onde as aves de plumagem colorida cantam a sua
felicidade.
Olhando o mar de frente, o viandante se depara com o seu
Farol plantado dentro do oceano, que, além de despertar curiosidade turística, ilumina a vasta escuridão
noturna, orientando quem nas águas navega, lembrando, também, gigantesco vaga-lume a atrair, com sua luz intermitente, as aladas
falenas de asas brilhantes, para a dança esvoaçante da
noite marinha.
Maracajaú se
alonga por muitos quilômetros de areia alvinitente e começa a ser
conhecida e visitada devido à sua solidão
repousante, à sua natural beleza e por sua abundante pesca da lagosta
e camarão, os deliciosos crustáceos da
nossa costa pesqueira.
Dizem que no Verão passado repetiu-se, ali, a pesca milagrosa,
quando Pedro, o Pescador, lançou a rede do outro lado, puxando 153
peixes saltitantes, que o barco voltou à beira-mar inclinado de tanto peso.
Numa saliência da
praia se avista gracioso espaço ocupado por farfalhante coqueiral e que se alonga por linda enseada,
chamado Ponta dos Anéis.
Nascida numa concha de pérola,
uma sereia encantada, de pele bronzeada e de cabelos de matiz aureovioláceo, imagino, foi trazida pela brisa perfumada até a pitoresca Ponta dos Anéis, de
Maracajaú, como as ondas levaram Vênus à ilha de
Chipre.
Tinha ela a ardência do Sol e a suavidade da Lua. Pela
manhã, mergulhava no mar e ficava na linha d'água onde quebram as ondas, para usufruir do banho
refrescante e oxigenado das espumas. À tarde, sentava-se na pedra das
caravelas lilases, semisubmersa, contemplando a vibração da ressaca das vagas, beijando os arrecifes de coral.
E, à noite, com os olhos cintilantes de Minerva, costumava
contar as estrelas do Céu, apontando para elas, chegando a criar uma verruga na
ponta do dedo, confirmando a fábula.
No terceiro dia de lua cheia, as pedrinhas da praia que
sua mão tocava se transformavam em colares de búzios para cobrirem os ombros nus, nas noites de festa.
E, numa manhã primaveril, essa sereia encantada metamorfoseou-se no cisne de Leda e deslizou, com o seu porte elegante e altivo,
pelo grande lago azul salgado.
Soube-se, um dia, que um pescador
daquela praia ficou vesgo e com os olhos de peixe morto, de tanto olhar para
ela.
Uma canção de amor, entoada pela harpa do vento, embala os sonhos da bela sereia,
nas noites quentes de Verão.
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